Integra

Introdução: João Saldanha foi uma personalidade muito ligada ao futebol brasileiro, inicialmente como dirigente botafoguense, depois como técnico do time alvinegro. Após esta passagem pelo seu clube, se estabelece como comentarista futebolístico em diversas rádios e a partir de 1959 também em jornais de grande circulação. Jornais esses que desde a década de 1930 foram o principal meio de comunicação a tratar o futebol e gerar debate entre as massas, função esta também cumprida pelo rádio. Os especialistas - jornalistas e acadêmicos ligados ao esporte - promoviam a intermediação tecnológica, material e simbólica entre torcedores e profissionais. Deste modo, Saldanha, um homem que acumulava a vivência tanto de profissional do jogo, treinador, além de torcedor do alvinegro carioca e, num último período, de especialista em futebol, pode ser considerado o representante de uma síntese dessas categorias, fato que lhe propiciava a abertura necessária para reflexões e críticas sobre o esporte e a sociedade brasileira no debate com o seu público.

 Objetivos: Este projeto busca entender de que forma as crônicas sobre futebol, escritas por João Saldanha, para diversos jornais do final da década de 1950 até 1990, relacionam futebol-arte e a identidade do povo brasileiro, criando outros diversos elementos significativos desse pertencimento nacional para os seus leitores e no meio do futebol como um todo. A partir disso mostraremos como a concepção de povo brasileiro do autor está intimamente ligada às suas reflexões sobre o jogador de futebol, que é o representante popular e o artista mais aclamado pelo povo.

 Metodologia: O processo de pesquisa foi iniciado pela análise qualitativa do material escrito pelo autor, o fichamento de livros que abordam academicamente a crônica esportiva, destaque para a obra de Fátima Antunes "Com brasileiro não há quem possa!" e o trabalho de José Carlos Marques, O futebol em Nelson Rodrigues. No segundo momento o tema futebol-arte foi o preponderante na leitura e o surgimento da sua relação com o conceito de futebol-força foi inevitável no debate que é tratado por autores como José Miguel Wisnik, Luiz Henrique Toledo e José Paulo Florenzano. Por fim, a questão da identidade foi tratada a partir da conceituação de Renato Ortiz. As fontes e referências se aproximaram numa reflexão sobre o que todas elas poderiam influir para a compreensão da obra de Saldanha e como explicar os conceitos centrais de futebol-arte e identidade nacional que se comunicam durante toda a produção jornalística do escritor.

 Resultados/Conclusões: A análise de uma identidade nacional ligada à existência do futebol-arte nas crônicas de João Saldanha se provou acertada, com um conceito que proporciona a compreensão conjunta de ambos: a malandragem e seus diversos meios acadêmicos de reflexão, como a bossa e a prontidão. Percebe-se que os elementos desenvolvidos da sociedade brasileira e também do seu futebol estão mais próximos do natural do que do socialmente construído e do cultural. A predominância de fatores naturais como o clima, uma predisposição física do povo brasileiro miscigenado ao jogo, o aprendizado não-formal, uma inteligência corporal aflorada. Os fatores da natureza e de emanação popular são vistos como o potencial brasileiro, diferente do discurso habitual que coloca o primado brasileiro na aquisição de uma cultura erudita, que permanece isolada em poucos grupos.