Resumo

A prática do futebol por mulheres historicamente é matizada por episódios de concessões, infiltrações, transgressões e conquistas. Embora as mulheres tenham estado presentes em todas as etapas da sociogênese do futebol, protagonizando inserções tanto como espectadoras quanto na condição de praticantes, o espaço e a visibilidade destinados ao futebol feminino evidenciam a inocuidade dessa prática como campo de atuação profissional. À luz desse cenário, o objetivo desta pesquisa consistiu em analisar os projetos de jogadoras e de "clubes" para a efetivação do futebol como carreira profissional, bem como a normatização legal dos vínculos futebolísticos dessas atletas. Para esse fim, realizou-se um estudo de caso com três equipes que disputaram o Campeonato Paulista de Futebol Feminino de 2011, por meio de um diário de campo, entrevistas semiestruturadas com dirigentes e treinadores (as) e grupos focais com atletas. As equipes analisadas revelam disparidades estruturais permeadas pelas representações dos diferentes sujeitos, que sinalizam para distanciamentos e aproximações de uma atividade profissional. Os projetos das jogadoras pesquisadas evidenciam o reconhecimento do exercício profissional, porém circunscritos pelos impedimentos da falta de estrutura e da formalização dos vínculos empregatícios. Em contrapartida, pela análise da legislação podemos identificar que as jogadoras exercem atividade profissional de fato, explicitando a ilegalidade dos mecanismos de formalização dos vínculos firmados pelos seus clubes, quando estes não cumprem com as garantias às quais as atletas fariam jus por direito. Tendo em vista a legitimação da profissão de futebolista para as mulheres, indicamos a necessidade de a CBF, federações e clubes afiliados garantirem a sustentabilidade do futebol feminino, com a organização de competições e a manutenção de equipes de mulheres nos clubes que mantêm o futebol profissional atualmente. 

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