Resumo

As primeiras décadas do século XX constituem, no Brasil, um período marcado por um ímpeto de urbanização e modernização. Neste contexto, o esporte começou a despontar como uma prática com grande potencial higiênico, educativo e de sociabilidade, tornando-se símbolo de modernidade entre as elites e os intelectuais brasileiros. Estes grupos frequentemente publicavam artigos em defesa do esporte em distintos periódicos, utilizando diferentes autores para legitimar estas práticas, entre eles Georges Hébert, conhecido atualmente por sua crítica à prática esportiva como um fim em si mesmo e como espetáculo. O objetivo deste artigo é compreender a recepção da obra de Hébert e seus usos na discussão sobre o esporte em periódicos de grande circulação publicados no Brasil entre 1920 e 1930. Para a realização desta pesquisa utilizou-se os jornais: O Imparcial (1923), Correio da Manhã (1925), Jornal do Brasil (1927) e Jornal dos Sports (1931), Athletica (1933), encontrados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Dada a amplitude desse acervo, os estudos de Martins (2001) e Pereira (2000) ofereceram-nos suporte ao tema do periodismo. A delimitação temporal aqui utilizada é decorrente das próprias fontes analisadas, nas quais a maioria das inserções que vinculavam o nome de Hébert às práticas esportivas se concentrou entre as décadas de 1920 e 1930. Observa-se nestes periódicos certo entusiasmo com a obra e as proposições hebertistas, mas, principalmente, usos e abusos do nome de Hébert como argumento de força para legitimar a prática esportiva. O autor apareceu associado a importantes nomes da ginástica no cenário europeu, aos Clubs brasileiros, e ainda ofereceu força à legitimação da prática da natação. Entretanto, Hébert acreditava que o esporte deveria ser orientado pela beneficência, pela moral e pelo altruísmo, pois esses princípios preservariam o que realmente importa, isto é, o próprio exercício, e não o espetáculo que se constituiria a partir dele. Contudo, os jornais frequentemente o vinculavam à ideias que ele não defendia e a outros autores e métodos ginásticos com os quais não possuía qualquer proximidade, ao contrário. Nesse sentido, Hébert fora trazido como reconhecida referência a respeito dos exercícios físicos, se tornou um argumento de força na legitimação dos esportes no país.