Resumo

Esta pesquisa propôs um estudo sobre o fenômeno do racismo e da xenofobia na Europa através de levantamento bibliográfico, fontes diversas e, principalmente, histórias orais de vida de alguns futebolistas brasileiros negros que atuaram na Europa a partir da década de 1960. O conjunto de procedimentos adotados foi o da história oral, através do qual constituí documentos inéditos, em cujos textos estão expressas as experiências e as memórias da comunidade de destino. O objetivo geral da pesquisa foi relacionar o problema da negritude no futebol em vista de um contexto social mais amplo, o qual tem como pano de fundo a globalização e as migrações internacionais. A continuidade nos estudos sobre racismo no futebol deveu-se a um trecho específico da entrevista realizada com Leovegildo Lins Gama Junior, ainda no mestrado, em que dissera: “Ah, eu vivo num país em que a miscigenação é total. Isso aí... não me preocupa por nada.”. Tratava-se da representação de um diálogo com um companheiro do Torino em que ele fora indagado a respeito de uma faixa da torcida da Juventus cujos dizeres eram: “Junior, negro sujo! Sporco negro!”. Sua reação emblemática ao saber do ocorrido inquietou-me e fez-me refletir: a visão de Junior corresponderia a de toda uma coletividade de jogadores que passaram pelas mesmas experiências? A crença na democracia racial brasileira estaria presente no discurso de outros futebolistas brasileiros negros que imigraram para a Europa em diferentes tempos e para outros espaços? Haveria um jeito brasileiro de lidar com a questão? Essas perguntas somadas à grande quantidade de episódios atuais de racismo no futebol levaram-me a iniciar nova pesquisa, relacionando o tema em questão com outras problemáticas: a imigração, a identidade nacional e a pluralidade cultural na Europa. Dando ouvidos às vozes dos principais sujeitos e vítimas desse processo histórico que estavam ao meu alcance, realizei ao todo dezesseis entrevistas com futebolistas brasileiros negros de grande sucesso profissional que atuaram nas principais ligas europeias e em diferentes décadas. Embora as narrativas orais estivessem no centro dessa pesquisa, não deixei de consultar um conjunto grande de fontes (jornais, revistas, biografias, crônicas, charges, fotografias, dados estatísticos, leis) a fim de colocar o tema em perspectiva histórica. O resultado foi uma volumosa tese em que revisitei fatos esportivos conhecidos, interliguei episódios distantes no tempo e no espaço, e trouxe à tona memórias e experiências desconhecidas, sem deixar obviamente de alinhavar temas recorrentes na memória coletiva. Alguns desses acontecimentos e trechos de narrativas serão pertinentemente selecionados para a apresentação oral deste trabalho.