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Ao interrogarmo-nos sobre a desvalorização social impingida ao idoso e o seu conseqüente isolamento social, pudemos percebemos que isso se dá principalmente com o idoso que possui algum grau de dependência econômica, ou seja, aqueles identificados com os segmentos menos favorecidos da população. A fim de buscarmos uma compreensão menos superficial do fenômeno em tela, destacamos um elemento constitutivo da socialização capitalista, que é a produtividade, e tentaremos, a partir desta discussão, estabelecer algum grau de contribuições da educação física acerca desta temática.

O idoso e o processo de envelhecimento

O processo de envelhecimento limita socialmente, pois envelhecer significa ficar dependente, improdutivo (para o mercado de trabalho) e, portanto, restrito às atividades que o corpo e, principalmente, a sociedade permite.

Segundo o IBGE, nosso país deverá ter a sexta população mais idosa do planeta no ano 2.025, com 34 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que representará 14% de nossa população. Hoje em dia a população de pessoas com mais de 65 anos de idade representa 5,4% da população brasileira. (estimada em 157 milhões) e no ano 2020 será em torno de 9%. Há 50 anos a expectativa de vida de um brasileiro era de 43 anos. Hoje esta expectativa está em torno de 68 anos e para o século XXI deverá chegar a 73 anos. (Azevedo, 2000).

O grande desenvolvimento da Medicina neste século, tanto no que diz respeito ao processo curativo quanto à prevenção de doenças está na base destes números. Outro fator que contribui para o envelhecimento da população brasileira é a queda na taxa de fecundidade observada nos últimos 30 anos. Na década de 60 o número de filhos por mulher era de 5 e atualmente caiu para 2 (Ibidem).

Vem ocorrendo uma queda da taxa de crescimento de nossa população, com isso o número de idosos tende a aumentar em relação ao de jovens. Mas numa sociedade cuja sociabilidade valoriza a competitividade, não há espaço para que os idosos produzam ou, mesmo, mostrem-se ativos ou importantes (claro que aqui estamos tratando do idoso que depende economicamente de outrem, ou para a subsistência ou para a manutenção de privilégios).

Na opinião de Sayeg (1997), presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria, o envelhecimento é cercado de preconceitos, devido a vários motivos. Um deles é que se o indivíduo pára de produzir, deixa de ser útil para o sistema capitalista. Então, o velho torna-se descartável.

Segundo Faim, (1999). a entrada oficial na velhice acontece com a aposentadoria "Hoje em dia, por muito bem que desempenhe a sua tarefa, numa idade convencionada e estabelecida por lei, o trabalhador é afastado da sua profissão, brusca e obrigatoriamente".
O que podemos fazer então pelos idosos? Abandoná-los como se estes fossem vítimas de um envelhecimento social e deixar que sejam esquecidos com o tempo?

Socialmente, o idoso vive a sua velhice conforme o ambiente em que habita. Se se sente respeitado e querido, integrado na sua família e útil, não perde a sua autoconfiança nem se considera uma carga. (Faim, 1999).

A sociedade produtiva

O número de pessoas que a cada ano entram e saem do mercado de trabalho depende de dois grupos de fatores. O primeiro é a tendência demográfica do país. O segundo é o desempenho da própria economia (Leite, 2001).

O mercado de trabalho, em 2030 terá cerca de 1,5 contribuinte por aposentado. Portanto é necessário manter pessoas trabalhando para sustentar o sistema previdenciário, assim o envelhecimento da população torna-se um problema sério. Mesmo o trabalhador sem carteira assinada que não contribui agora, irá pedir sua pensão depois. (Ibidem).

O censo revela que o número de pessoas com idade para trabalhar também cresceu, só que, assim como não existe dinheiro para a aposentadoria dos mais velhos, não há vaga para tanta gente nova no mercado de trabalho. São aposentados cerca de 1 milhão de pessoas por ano, mas não são gerados 2 milhões de empregos. (Ibidem).

O desenvolvimento econômico e, portanto, o mundo do trabalho não tem contribuído para a resolução destes problemas, ao contrário. Nos últimos anos, as empresas têm mais fechado do que aberto novos postos de trabalho. Isso tem aumento o trabalho informal, precarizado, que acaba por absorver parte do contingente de desempregados. Os idosos também fazem parte deste processo, são explorados por empresas para o serviço de oficce-boy, principalmente por pegarem filas especiais em bancos e por não pagarem transporte, ganhando, assim, tempo e dinheiro, elementos altamente sedutores para o setor produtivo.

A falsa idéia de que o processo de envelhecimento acarreta uma queda brusca e irreversível da produtividade nasceu com a instituição da aposentadoria. A idéia de uma idade-limite para aposentadoria, fixada primeiro em 70 anos, depois em 65, nasceu na Alemanha em 1889. Depois foi sendo introduzida em outros países (no Brasil só chegou na década de 40). A aposentadoria surgiu com o intuito de criar vagas para trabalhadores jovens (Machado, 2001).

Com o surgimento da aposentadoria muitas pessoas passaram a acreditar que devido a idade limite instituída, aposentadoria significava incapacidade. Isto mesmo sem uma base biológica convincente, afinal 55, 60 ou 65 anos não significa que o indivíduo não tenha mais capacidade profissional, mesmo porque o envelhecimento varia de pessoa para pessoa.

O conceito de produtividade não pode ser limitado à produção econômica. Visto desta forma, negamos a possibilidade da contribuição dos indivíduos às causas sociais, que possam atuar politicamente em nome de uma comunidade, de uma sociedade ou de grupos sociais específicos. Do contrário, estaremos reproduzindo nos diversos fóruns, do qual presidimos o processo socializador, os mesmos valores defendidos por uma sociedade discriminatória.

Impactos psico-sociais da improdutividade na velhice

O ser humano diante da velhice teme ficar dependente, improdutivo e ser julgado incapaz de executar atividades antes rotineiras. Isto deve afetá-lo emocionalmente tornando-os-se apáticos e sem perspectivas. O idoso é discriminado pela sociedade competitiva devendo se limitar a ficar em bancos de praças, conversando com amigos ou jogando bocha.

Para Faim (1999), a aposentadoria favorece o isolamento social, a inatividade e a depressão. Esta última aparece sobretudo num momento de solidão, quando se perde um amigo, perante um anúncio de uma doença, ou quando não se tem mais como resistir à velhice e deixa-se de trabalhar.

O comportamento da família e da sociedade, em relação aos idosos, tem sido cada vez mais discriminatório, sobretudo nas grandes cidades onde os núcleos familiares são cada vez mais reduzidos e menos estáveis e os idosos vivem e morrem de solidão. Talvez, comparando os últimos anos de vida destas pessoas com o envelhecimento de seus pais e avós no campo, onde até o final dos seus dias, após uma vida de trabalho, ocupava o mesmo lugar na sociedade, não podemos evitar pensar que noutros tempos a sociedade era mais generosa do que nos nossos dias (Faim, 1999).

Ao longo da História, as pessoas idosas têm desempenhado várias funções e a sua importância tem flutuado duma forma surpreendente desde o simples extermínio por parte dos povos primitivos até a admiração e veneração religiosa de algumas civilizações antigas (Ibidem).

Educação física e seu papel possível

A Educação Física tem dado importância para este grupo? Será que na escola existe alguma preocupação com uma educação para a velhice? Será que existe algum projeto que se preocupe em estabelecer uma socialização para o respeito a todas as faixas etárias? Que exclua a possibilidade de exploração de crianças, de velhos, de mulheres, de etnias não brancas, de trabalhadores?

Ao profissional de Educação Física cabe, nos espaços de socialização em que dirige, estabelecer lógicas que se contraponham aos valores dominantes, que até por uma aparente inércia agravam o problema da exclusão.

Apesar das diferenças entre os idosos quanto às condições físicas, todos sofrem os impactos psico-sociais da velhice, seja pela discriminação do mercado de trabalho ou pela queda de rendimento na execução das atividades rotineiras. O fato é que as imposições sociais, os preconceitos e a estética física predominante influenciam negativamente na vontade de iniciar uma atividade física ou social.

Considerações finais

Diante do que foi verificado neste estudo, percebemos que o problema da improdutividade, entendendo a produtividade como produção de riquezas, é hoje, uma das maiores causas de uma velhice doente, é, portanto, imperioso que construamos uma sociabilização que negue as relações de exploração, que se comprometa com um mundo fraterno, radicalmente solidário, sempre.

É necessário que estendamos a todos os fóruns de socialização, à escola, à família, ao clube, à academia, ao clube de mães, ao centro comunitário, à sociedade amigos do bairro, enfim, a todos os espaços possíveis, nossa compreensão de mundo, de ser humano, de sociedade, de justiça, de companheirismo, de responsabilidade, de solidariedade, conceitos esses que negam os valores que presidem a socialização numa sociedade calcada na exploração e na desigualdade, logo, na injustiça. E é por negar esses valores que projetamos uma nova ordem social, a partir disso, é preciso que estabeleçamos as estratégias para execução deste projeto.

Obs. A autora, Carolina Vilas Boas é professora das Faculdades Integradas de Guarulhos - FIG/SP, enquanto o autor Antônio Carlos Vaz é professor da Universidade Cruzeiro do Sul - UNICSUL/SP.

Referências bibliográficas

  •  Azedo, João Roberto de. Velhice Não é Sinônimo de Doença. çonline] Disponível na internet via: WW.URL: http/www.ficarjovemlevatempo.com.br 27.06.2000.
  • Faim, Dina. Velhice e Sociedade. çonline] Disponível na internet via: WWW.URL: http/www.terravista.pt/AguaAlto/1736/anoidoso.htm. 24.05.2001
  • Leite, Virginie. Cabelos Brancos. çonline] Disponível na internet via: WWW.URL: http/www.vejaonline.com.br. 29.05.2001
  • Machado, Renata Matta. Valorização da Maturidade. çonline] Disponível na internet via: WWW.URL: http/www.maturidade.com.br/publica/jornais.htm. 23.03.2001.
  • Sayeg, N. Mais respeito ao idoso. Revista Saúde é Vital, São Paulo: Editora Abril, p.100-103, 1997.