Resumo

A desnutrição é um problema de saúde pública, sendo a principal causa de mortalidade infantil no Brasil. Suas consequências podem perdurar por toda a vida. O sistema nervoso central é altamente sensível à desnutrição, sofrendo diminuição de massa e modificações funcionais. Além da desnutrição, a lesão nervosa periférica é outra situação que acarreta intensa reorganização cortical, principalmente no córtex motor. Os microtúbulos e neurofilamentos tem sua estrutura comprometida nas duas condições (desnutrição e desnervação), o que pode alterar a imunorreatividade das proteínas a eles associadas. Entretanto, não foram identificados estudos que avaliem a imunorreatividade das proteínas associadas aos microtúbulos (MAP2) e aos neurofilamentos (PAN) na condição de desnutrição e lesão nervosa periférica. Este estudo avaliou os efeitos da desnutrição proteica e da axoniotmese sobre a imunorreatividade de MAP2 e PAN, nos córtices motores primário (M1) e secundário (M2), por serem áreas responsáveis pela motricidade. Dezesseis ratos Wistar foram divididos nos grupos: Controle Nutrido (CN), Controle Desnutrido (CD), Lesado Nutrido (LN) e Lesado Desnutrido (LD). A massa corporal foi aferida semanalmente e os dados submetidos ao teste t, seguido de Anova (um critério). A imunorreatividade de MAP2 e PAN foi avaliada pela técnica de imunohistoquímica, sendo as diferenças de densidade integrada (DI) destas proteínas entre os grupos analisada pelo teste de Mann-Whitney. Para análise das diferenças de DI unilateral aplicou-se o teste Anova (um critério) seguido de Tukey. Considerou-se o nível de significância de 5%. A massa corporal dos grupos CD e LD foi menor que nos respectivos controle (p<0,01). A média da DI de MAP2 e PAN foi menor no grupo CD em relação ao CN em M1 e M2 (p=0,02). Em análise bilateral, a DI de MAP2 e PAN em M1 e M2 foi menor em CD em relação à CN tanto no lado controle quanto no experimental (p<0,05). Após lesão periférica, a DI média de MAP2 e PAN reduziu em LD em comparação ao LN (p=0,02). Em análise unilateral, a DI no lado experimental foi sempre menor que no lado controle (p<0,01), em M1 e M2, sendo a redução mais severa nos grupos desnutridos. Conclui-se que a desnutrição promoveu redução da imunorreatividade de MAP2 e PAN nos córtices M1 e M2; a lesão nervosa, mesmo em condição nutricional normal, promoveu redução da imunorreatividade de MAP2 e PAN nos córtices M1 e M2 contralateral à lesão; a desnutrição associada à axoniotmese potencializou a redução da DI das proteínas analisadas no córtex motor primário e secundário, sugerindo que a recuperação funcional em animais submetidos a axoniotmese e desnutridos seria ainda mais prejudicada. Estes resultados são relevantes para a definição de estratégias específicas para reabilitação da lesão nervosa periférica na condição de desnutrição.

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