Resumo

O excesso de peso e a obesidade abdominal são determinantes dos níveis pressóricos em crianças e adolescentes, mas ainda não há consenso sobre o melhor preditor antropométrico da pressão arterial elevada nessa faixa etária. O objetivo deste estudo foi verificar a relação da pressão arterial com o índice de massa corporal, circunferência abdominal, razão cintura/estatura e dobra cutânea tricipital, em escolares de 10 a 16 anos de idade, de ambos os gêneros e provenientes das escolas municipais de Curitiba – PR. Estudo epidemiológico com delineamento transversal, no qual participaram 1441 escolares (655 meninos e 786 meninas) que foram avaliados durante o horário escolar, quanto aos seguintes parâmetros: massa corporal; estatura; circunferência abdominal; adiposidade corporal subcutânea pela medida da dobra cutânea tricipital; pressões arteriais sistólica e diastólica; estágio de maturação sexual pela autoavaliação da pilosidade pubiana; e nível econômico. O índice de massa corporal foi classificado por critérios de referência nacional. Consideraram-se os percentis 75 e 90 para a classificação da circunferência abdominal e da dobra cutânea tricipital, respectivamente, e o valor de 0,5 para a classificação da razão cintura/estatura. A pressão arterial elevada refere-se aos valores da pressão arteria sistólica e/ou diastólica iguais ou acima do percentil 90 ou de 120/80, para idade, gênero e percentil de estatura. O teste t de tudent indicou que, em média, os meninos apresentaram maiores idade, estatura, pressão arterial sistólica e diastólica (p0,01), e as meninas maiores razão cintura/estatura e dobra cutânea tricipital (p<0,001). As médias de massa corporal, índice de massa corporal e circunferência abdominal foram semelhantes entre os gêneros. Os níveis pressóricos elevados ocorreram em 17,3% dos escolares, e os resultados do teste Qui Quadrado revelaram associação da pressão arterial elevada com o perfil do índice de massa corporal (c2 = 91,587; p = 0,000), mas não com os gêneros (c2 = 1,311; p = 0,252) e o nível econômico (c2 = 1,714; p = 0,190). As proporções de sobrepeso e obesidade nos escolares foram iguais a 23,8% e 8%, respectivamente. Houve maior taxa de sobrepeso nos meninos versus as meninas (25,2% vs 22,6%), mas uma proporção de obesidade duas vezes maior no sexo feminino (10,2% e 5,3%). O perfil do índice de massa corporal associouse com os gêneros (c2 = 11,710; p = 0,003) e com o nível econômico (c2 = 4,428; p = 0,035). Os coeficientes parciais de Pearson demonstraram que as correlações mais fortes foram entre as pressões arteriais sistólica e diastólica, respectivamente, e o índice de massa corporal (r = 0,28 e 0,26; p<0,001) e a circunferência abdominal (r = 0,26 e 0,24; p<0,001). Na regressão logística multivariada, os melhores preditores do risco de pressão arterial elevada foram o índice de massa corporal (OR = 2,9; CI95%: 1,9-4,5) e a dobra cutânea tricipital (OR = 1,9; CI95%: 1,3-3,1), independente da maturação sexual e do nível econômico. Os resultados permitiram concluir que a adiposidade corporal total parece ser melhor determinante do risco de elevação da pressão arterial do que a adiposidade abdominal.

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