Resumo

A ingestão de 4 mg de cafeína/Kg de peso corporal antes ou depois de uma sessão de exercício abole a hipotensão pós exercício (HPE). Entretanto, ainda não estava claro na literatura se volumes menores de café também aboliriam a HPE, por quanto tempo perduraria esse efeito, e por quais mecanismos a ingestão de café aboliria esse fenômeno. Assim, avaliamos a influência de diferentes doses de café, ingeridas após o exercício, na resposta clínica e ambulatorial da pressão arterial, e verificamos quais mecanismos permeiam essa resposta. Tratou-se de um ensaio clínico, controlado, randomizado, placebo e duplo-cego. Participaram nove hipertensos habituados ao consumo de café. Eles realizaram cinco sessões experimentais de exercício aeróbio de caminhada/corrida por 60 minutos, com intensidade entre 60 e 80% da frequência cardíaca máxima, realizado em esteira ergométrica, seguidas pela ingestão de uma dose de café com 144 mg de cafeína (CAF-144), duas doses com 288 mg de cafeína (CAF-288), três doses com 432 mg de cafeína (CAF-432), três doses de café descafeinado (DESC) ou água (EX-AG). Uma sessão controle, sem exercício e ingestão de água ou café (CONT) também foi realizada. Para que as sessões tivessem doses isovolumétricas, CAF-144 e CAF-288 foram complementadas por duas e uma dose de café descafeinado, respectivamente. As sessões obedeceram uma ordem randômica. A pressão arterial, medida de forma clínica; fluxo sanguíneo e modulação autonômica foram registradas após 20 minutos de repouso, e durante 120 minutos de recuperação pós-exercício. As doses de café ou água foram ingeridas nos primeiros 30 minutos de recuperação. Ao término da sessão, a pressão arterial continuou sendo monitorada de forma ambulatorial por mais 24 horas. Utilizou-se ANOVA one-way, two-way e medidas repetidas. Resultados: observou-se resposta hipertensiva sistólica e diastólica nas sessões CAF-144, CAF-288, CAF- 432, DESC e CONT em todos os momentos de medida após o exercício físico, enquanto que EX-AG mostrou-se hipotensiva na maioria dos momentos de recuperação. O fluxo sanguíneo mostrou-se significantemente maior em DESC e CONT aos 20 minutos de recuperação em relação ao repouso. Entretanto, a comparação entre as sessões demonstrou que CAF-144, CAF-288 e CAF-432 resultaram em menor fluxo sanguíneo comparado a CONT aos 20 e 120 minutos de recuperação (p<0,05). CAF-144, CAF-432, DESC e EX-AG resultaram em menor resistência vascular periférica apenas aos 120 minutos de recuperação em relação a CAF-288 (p<0,05). A modulação autonômica simpática e parassimpática entre as sessões experimentais não demonstrou diferença entre as sessões (p<0,05). Quanto ao monitoramento ambulatorial da pressão arterial, verificamos que tanto o componente sistólico quanto o diastólico pareceram não sofrer influência da ingestão de café logo na primeira hora de monitoramento ambulatorial. Conclusão: a ingestão de café cafeinado ou descafeinado eleva a pressão arterial por até duas horas pós exercício. Esses efeitos parecem estar acompanhados por modificações no fluxo sanguíneo, mas não na resistência vascular periférica e modulação autonômica cardíaca. Além disso, a HPE é abolida apenas até a terceira hora de monitoramento. Logo, sugerimos que a ingestão de café deva ser evitada na primeira hora de recuperação pós-exercício.
 

Acessar