Resumo

O objetivo do presente estudo foi descrever como se apresentam as interações verbais entre a professora e alunos na sala de aula e suas relações com os comportamentos motores dessas crianças em quatro classes de "treináveis" de uma escola especial. Os sujeitos deste estudo foram 26 alunos, com idades entre 6 e 12 anos, e quatro professoras de uma escola especial da APAE. A técnica de observação das aulas envolveu registro cursivo em amostragem de tempo. Os registros dos comportamentos motores da professora e dos alunos foram feitos simultaneamente por dois observadores. Em cada sessão de observação, um observador registrava o comportamento da professora, enquanto o outro, o de seis alunos da classe, dedicando a cada um 10 segundos sucessivamente. Os comportamentos verbais da professora e dos alunos foram gravados. O procedimento de análise envolveu, primeiramente, a divisão do comportamento verbal em unidades. Estas unidades foram a seguir categorizadas, utilizando-se o conteúdo como critério-base. Para analisar o comportamento verbal e motor da professora e dos alunos considerou-se a sua relação ou não com a atividade acadêmica. As categorias empregadas na classificação do comportamento verbal da professora foram: declaração relacionada à atividade acadêmica; declaração não relacionada à atividade acadêmica; pergunta relacionada à atividade acadêmica; pergunta-pista e pergunta não relacionada à atividade acadêmica; ordem relacionada à atividade acadêmica; ordem não relacionada à atividade acadêmica; apreciação positiva relacionada à atividade acadêmica; apreciação positiva não relacionada à atividade acadêmica; apreciação negativa relacionada à atividade acadêmica, apreciação negativa não relacionada à atividade acadêmica. As categorias empregadas para classificar o comportamento verbal dos alunos foram declaração relacionada à atividade acadêmica, declaração não relacionada à atividade acadêmica, pergunta relacionada à atividade acadêmica e pergunta não relacionada à atividade acadêmica. O comportamento motor da professora e do aluno foi analisado de acordo com as seguintes categorias: manipulação de objeto relacionada à atividade acadêmica, manipulação de objeto não relacionada à atividade acadêmica; gestos; contato com o aluno (ou professora); contato com o próprio corpo; posições estacionárias. O tratamento dos dados incluiu o cálculo da taxa de verbalizações da professora e dos alunos; correlação entre freqüência de verbalizações da professora e dos alunos, correlação entre freqüência de verbalização da professora e freqüência de comportamentos motores dos alunos; proporção de ocorrência de diferentes conteúdos verbais da professora e dos alunos; associação entre as categorias verbais da professora e comportamentos motores dos alunos e análise das seqüências iniciadas por perguntas da professora. Foram comparados os resultados das quatro professoras. Estes dados permitiram identificar que: as taxas de verbalização da professora sempre foram superiores às dos alunos; o comportamento verbal das quatro professoras mostrou correlação positiva com os comportamentos motores dos alunos; todas as professoras usam com maior freqüência declarações, perguntas e ordens quando dirigem-se aos alunos, principalmente quando estão se referindo a tarefas escolares. Os resultados mostram ainda que um tipo de pergunta interessante para esses alunos é a pergunta-pista. Com ela a professora consegue respostas imediatas e em maior proporção. Os resultados obtidos através das análises de dependência sugeriram algumas tendências características das professoras ao interagir com as crianças na sala de aula. Os alunos estavam manipulando objetos da atividade escolar quando a professora emitia declarações informando sobre a tarefa ou quando dava ordens ligadas à atividade escolar; também quando a professora usou ordens, estas apareceram associadas a auto-estimulação ou então o aluno mantinha-se em posição estacionária. Se a professora utilizasse como verbalização perguntas sobre atividade, os alunos manipulavam objetos da tarefa ou gesticulavam concomitantemente. Foram analisadas as cadeias de interação formadas por perguntas da professora à qual se seguiam verbalizações da própria professora ou do aluno. Para esse tipo de verbalização, os resultados mostram que há uma proporção alta de respostas do aluno que acontecem somente se a professora emitir várias perguntas sucessivas; também foi encontrado que a professora insiste com perguntas, em cadeias terminadas por verbalizações dela própria, com outros conteúdos. Como contribuição ao trabalho em classe especial, chama-se a atenção para alguns aspectos da interação que podem ajudar a professora. - o uso da categoria verbal ordem relacionada à atividade acadêmica, com um modo imperativo, leva as crianças a apresentarem comportamentos de agitação; ,- ficou evidente que os alunos respondem mais prontamente quando a professora usa perguntas-pistas.

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