Editora Editora UFRN. Brasil 2011. None páginas.

Sobre

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO
Ecleide Cunico Furlanetto

O JOGO DE AREIA COMO OBRA DE ARTE DA VIDA
Katia Brandão Cavalcanti

O JOGO DE AREIA E A ESCOLA

GRÃOS DE ALEGRIA NA CAIXA DA SABEDORIA:

EXPERIENCIANDO UMA NOVA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Siomara Priscilla Anjos de Deus Barbosa

JOGO DE AREIA E MÚSICA: CONSTRUINDO PARTITURAS NA AREIA

Maristela de Oliveira Mosca

O JOGO DE AREIA E O LAZER

JOGO DE AREIA E A EDUCAÇÃO PARA O LAZER
Lígia Souza de Santana Pereira

A FORMAÇÃO LUDOPOIÉTICA DO PROFISSIONAL DO LAZER:

UM DESAFIO PARA SUA AUTOFORMAÇÃO HUMANESCENTE
Sonia Cristina Ferreira Maia

O JOGO DE AREIA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A INCLUSÃO HUMANESCENTE NO JOGO DE AREIA:

ACOLHENDO A DIVERSIDADE
Narla Sathler Musse de Oliveira.

EDUCAÇÃO FÍSICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES:

VIVÊNCIAS CORPORAIS PARA O FLUIR HUMANESCENTE
Elen Dóris Barros Carlos de Amorim

LUGAR, MEMÓRIA DO ESPAÇO VIVIDO:

UMA APRENDIZAGEM DA GEOGRAFIA COM O JOGO DE AREIA
Edileuza de Medeiros Monteiro Roque.

O JOGO DE AREIA E A AUTOFORMAÇÃO

A LUDICIDADE NA AUTOFORMAÇÃO DO EDUCADOR
Evanir de Oliveira Pinheiro

EDUCAÇÃO VIVENCIAL HUMANESCENTE NA ESCOLA JUDICIAL:

O REENCANTAMENTO COM O TRABALHO
Rita de Cássia Araújo Alves Mendonça

O JOGO DE AREIA E O PROCESSO SELETIVO HUMANESCENTE

PROCESSO SELETIVO HUMANESCENTE:

O DESAFIO DO JOGO DE AREIA PARA O SER EDUCADOR
Ana Tânia Lopes Sampaio.

PREFÁCIO
João Batista Freire

           Quem busca o belo faz o bem. Do amor, a gente não sabe da missa a metade, e é por falta dele que a ciência se afastou tanto dos homens. Do jogo, o que sabemos? Se não o explicamos, jogando já não precisamos explicá-lo. São tantos os mistérios! E a ousadia reside justamente em lidar com o belo, com o bem, com o jogo, com o amor, com a transdisciplinaridade. Foi a tarefa que se colocaram as autoras deste livro, que tenho o privilégio de ler em primeira mão.

           Passemos à questão central. Nossas autoras colocaram no centro de todas as coisas deste livro, como matriz transdisciplinar, o corpo; para dizer do bem, do belo, do jogo, do amor... De fato, pretendem romper com uma tradição de séculos. Há muito que a ciência, depois da religião, decretou como disjuntos o corpo e a razão, ou o corpo e a mente, ou o corpo e o espírito. A transdisciplinaridade não convive com tal tradição, uma vez que, no cerne de todo conhecimento, e de onde emanam todos os demais, reside o corpo, aquilo que somos não aquilo que temos.

           Há, entre o que faz Katia Brandão Cavalcanti, as demais autoras deste livro, e o que faço em meu trabalho pedagógico, muitas coisas em comum. Entre elas, a recorrência ao lúdico, na fronteira do que faz a psicologia, porém, um pouco adiante, no campo do que faz a pedagogia. No meu trabalho, não recorro aos jogos nas caixas de areia (figura presente em todos os capítulos deste livro). Utilizo outros cenários, outros materiais, porém, na mesma linha da percorrida pelos trabalhos descritos nesta obra. Minhas crianças constroem, jogando o faz de conta, cenas de suas vidas. Ao fazer isso, produzem beleza (desenvolvendo o sentido estético), fortalecem o pensamento, refinam sua motricidade, constroem normas morais de convívio, articulam-se em tarefas coletivas e aprendem a lidar com suas emoções.

           Ora, e aqui eu já converso com as autoras: o que deve uma criança, ou mesmo um adolescente e um adulto, aprender? A viver, sem dúvida. Nada tenho contra os vegetais, mas não somos vegetais; também nada tenho contra os outros animais, mas humanos é o que somos e é ao humano que somos que a educação deve se dirigir. É somente aquilo que sabe o professor que o aluno deve aprender? Nunca! Mesmo que um professor não saiba mais que repetir monocordiamente a matéria pela qual é responsável, o aluno deveria, no mínimo, reconstruir aquele conhecimento, para que seja dele, para usufruir do conhecimento que decorre desse processo de construção. Humano não é o que repete, é o que cria. Homens e mulheres devem aprender a ser humanos, e sempre mais humanos. Gorilas e chimpanzés que realizam proezas matemáticas não demonstram inteligência; demonstram-na quando se tornam mais e mais macacos. Dotados do germe da humanidade, por qual motivo educamos crianças como se fossem vegetais ou ratazanas?

           Com o quê então, o corpo é, neste livro, a matriz transdisciplinar de uma pedagogia! Exato, mas é porque se trata de falar de uma educação para humanizar. Que não se faria se o corpo que somos não fosse a espinha dorsal dessa educação. A educação transdisciplinar não parte de conceitos a priori, conceitos que antecederiam o próprio nascimento, a própria encarnação. Parte daquilo que somos, para que, no processo educacional, sejamos mais: mais humanos, vale dizer, mais éticos. A vida, que nos cabe de direito, será, eticamente, preservada. Dela cuidaremos, e é só por isso, que apreciaremos a beleza, que produziremos e respeitaremos normas, que civilizaremos emoções, que viveremos coletivamente, que, enfim, nada faremos contra a vida e tudo faremos a favor dela.

           A solidão da cela, os rigores de uma educação quase ascética, destituída do sentido da alegria, pode ser substituída pela celebração da vida.[HRM1]  Aprender é aprender do privilégio [HRM2] de se saber vivo, e, quem pode mostrar, mais que tudo, é o jogo. Jogo que é o usufruto da vida, que é para isso que nascemos. Porém, uma boa educação não descura do fato de que todo usufruto consome e produz a falta. Portanto, a boa educação propõe a vida sustentável, a vida que cada um de nós usufrui, mas que nos obriga, eticamente, a produzir para repor o consumido.

           O corpo está na berlinda, como se, passados tantos séculos, tenhamos nos cansado de aguardar por gratificações que não são deste mundo, quando, de fato, estão todas elas aí, à nossa disposição. Por que são tão bons os folguedos, de gente pequena e de gente grande, os encontros amorosos, o sexo, as correrias, as gargalhadas, as tarefas bem realizadas, o trabalho produzido, a arte, as celebrações, os filhos, os amigos? Sabemos bem dos sofrimentos, da solidão, da amargura que nos acomete quando parece que nada mais resta, e é por isso que é tão árdua a tarefa da educação. Mas é tão bom sentir, em momentos privilegiados, que tudo está bem e que nada nos falta, apenas porque estamos vivos!

           Katia e as demais autoras oferecem, neste livro, para a educação de modo geral, com respingos na Educação Física, algumas das inúmeras possibilidades pedagógicas dos jogos na caixa de areia. É tamanha a diversidade de recursos educacionais quando se recorre ao jogo, e tantas e tão diversificadas as experiências das autoras que compuseram este livro, que seriam necessários vários livros para relatar tudo o que o grupo de pesquisadores vinculados à Base de Pesquisa Corporeidade e Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte têm a oferecer. Trata-se de uma riquíssima experiência que eu gostaria de ver repetida nos diversos programas de pós-graduação em Educação e em Educação Física, isto é, pesquisas que se aplicam diretamente à pedagogia, pesquisas que produzem conhecimentos em pedagogia.

           Efetivamente, ensinar para a vida, isto é, ensinar a viver, é o nó górdio da educação. Que as experiências bem sucedidas como as que vão aqui relatadas neste livro não se perpetuem como experiências isoladas de um grupo, mas que um dia se generalizem a todo o processo educacional. Por qual motivo ensinar crianças como crianças, adolescentes como adolescentes e adultos como adultos não podem constituir uma regra educacional? Por que ensinar em liberdade não pode ser uma prática habitual, normal?

De minha parte,
Assim como acabo de ler neste livro,
As pessoas serem elas mesmas,
E crescerem a partir disso,
Humanizando-se,
Apesar de contrariar tanta tradição,
Deveria ser o mote,
A espinha dorsal,
O discurso e a prática,
De toda educação.

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