Resumo

Os Serviços Residenciais Terapêuticos ou Residências Terapêuticas são casas na comunidade, destinadas a abrigar egressos de longa internação psiquiátrica quando seu suporte social é frágil ou recusa-se a aceitá-los de volta na moradia familiar. Visam por meio do estímulo ao morar, acolher a subjetividade de cada ex-paciente e auxiliá-lo a se descobrir morador e cidadão. Para tal, calcam-se nos princípios da reforma psiquiátrica de autonomia e cuidado em liberdade, além de desenvolver junto com o morador, equipe e rede de saúde mental, projeto singular terapêutico, o qual, dentre outros elementos, deve favorecer o lazer dos moradores. Este trabalho apresenta resultados da pesquisa de mestrado, defendida em agosto de 2015, nomeada “Não tô boa. Preciso passear!”. A dissertação discorre sobre o papel do lazer no cotidiano dos moradores de duas Residências Terapêuticas da Regional Nordeste de Belo Horizonte, compreendendo este objeto como necessidade humana e dimensão da cultura dos residentes. Apoiou-se na teoria sobre lazer desenvolvida por Christianne Luce Gomes e fizeram-se interlocuções com os dizeres de Thelma Simões Matsukura sobre cotidiano, além de conceitos provenientes da Reforma Psiquiátrica e Reabilitação Psicossocial. Utilizou-se de metodologia qualitativa, em que foi aplicado transversalmente guia de entrevista e realizadas observações do cotidiano no período de maio de 2014 a março de 2015. Os dados foram categorizados em: História, Rotina e Lazer. A partir dos discursos dos moradores, o lazer é apresentado de diversas formas, inclusive como tarefa doméstica, passeios, sexo e trabalho. O não ter lazer também foi apresentado. Observou-se a riqueza que o lazer traz para o cotidiano dos moradores, a qual pode contribuir para a (re) significação deste cotidiano. Questionou-se a dependência de outras pessoas (cuidadores e acompanhantes terapêuticos, em sua maioria) para que os moradores pudessem vivenciar seu lazer. Este trabalho tateou o conhecimento sobre lazer de moradores de residências terapêuticas em seu cotidiano, valorizou a percepção de lazer dos moradores e questionou sobre esta e sua ligação com a cultura manicomial e o novo cotidiano que se apresenta para esses egressos do manicômio. A realização de outros estudos é encorajada, uma vez que se acredita que será no dia a dia que a cultura do lazer será (re) descoberta e (re) inventada, de forma interligada com a (re) significação desses sujeitos como moradores e cidadãos de uma cidade. Tomando para si mesmos não apenas como corpo que conta uma história de exclusão, mas também como construções de empoderamento e de enfrentamento sociocultural.