Resumo

Nessa pesquisa, lanço um olhar sobre o Grupo de Escalada e Montanhismo da Unicamp (GEEU) a partir do pressuposto de que as práticas relacionadas ao grupo de escalada residem na esfera do lazer. Estudo as configurações da participação no GEEU, focando a prática engajada à escalada como irrestrita ao seu exercício, ou seja, que não pode ser explicada analisando apenas a ação da prática central isoladamente. Através das particularidades da sua prática e das relações entre seus participantes, tanto a escalada em geral quanto o GEEU criam espaços para a construção de sentidos que atribuem significados à experiência de lazer. Conforme será demonstrado ao longo do trabalho, essas práticas são potenciais vetores de um lazer que pode ser caracterizado como significativo e promotor da experiência. Assim, o objetivo, nessa pesquisa, é investigar os significados das práticas do GEEU. Para alcançar tal objetivo, exploro a experiência da escalada no referido grupo, os significados que dela emergem e os que são atribuídos pelos sujeitos que nela se envolvem. O método empregado parte da necessidade de adentrar no mundo dos sujeitos pesquisados, conhecendo suas particularidades, os sentidos e os significados. Realizei, então, uma observação participante ao longo de dezoito meses em campo, convivendo com os sujeitos e incorporando o habitus da escalada para uma compreensão aprofundada desse universo. Adicionalmente, conduzi oito entrevistas com membros do GEEU em que algumas informações específicas que não emergiram espontaneamente em campo puderam ser mais bem exploradas. Para auxiliar na compreensão das múltiplas facetas do grupo de escalada, recupero um modelo teórico que traz fundamentos que dialogam extensamente com o visto e o não visto no trabalho de campo: a Serious Leisure Perspective de Robert Stebbins. Lanço mão das categorias definidas por esse modelo para discutir as práticas do GEEU já em um processo de contextualização através de um diálogo com elementos da escalada incorporados na pesquisa de campo. Assim, demonstro que a escalada, como um todo, constitui uma cultura com suas próprias atitudes, crenças, valores, práticas e expectativas. Logo, ela assume a forma de um mundo social. Esses elementos indicam que a existência em grupo e o exercício de uma identidade forjada dentro de um universo com seu ethos e suas idiossincrasias são um fator fundamental na formação de um mundo social como espaço coletivo da experiência de lazer. Ao demonstrar a complexidade do universo da escalada e do GEEU, evidencia-se que não são as sensações ou o status promovido pela ação central, apenas, que constituem a atração e motivação para a participação na atividade. Mais que isso, é a atuação no grupo de escalada que provê uma extensa e profunda carga de sentidos e significados ao participante, preenchendo uma existência individual. O sujeito encontra, além do prazer da atividade, a oportunidade de forjar uma identidade, de compartilhar valores com seus pares, de empreender ações outrora inalcançáveis, de estipular e alcançar suas próprias metas e desafios. Muitas vezes os escaladores visitam o GEEU não para escalar, mas apenas para entrar desfrutar desses elementos. 

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