Resumo

Por reconhecermos a importância do currículo na formação de qualquer profissional, é que este estudo teve como propósito fazer uma análise de maneira reflexiva do currículo com base numa concepção de Educação Democrática. O objeto da análise foi a nova proposta curricular do Curso de Licenciatura Plena da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esta proposta curricular, foi implantada a partir de 1993, cumprindo uma exigência da Resolução 03/87 do Conselho Federal de Educação, (CF), que fixa "a estrutura, os mínimos de conteúdo e duração dos Cursos de Educação Física, (Bacharelado e ou Licenciatura)". Esta análise se baseou, num conceito de educação democrática e de uma convicção da qual somos possuidores: o de uma proposta para a Educação Física que entendemos como teoricamente viável e eticamente justificada, ser aquela que considera a realidade concreta, respeita a identidade individual e coletiva, constrói a solidariedade e a cooperação entre os seres humanos; trabalha as relações de dominação social, através de uma análise crítica da realidade, e inviabiliza, no espaço da escola, as condições que produzem o autoritarismo, o fracasso da escola. Ser aquela que se compromete com os resultados de suas ações percebidas como prática historicamente contextualizada e tendo como compromisso a construção coletiva de uma sociedade justa, representando uma opção política, em prol de uma Educação Democrática e de qualidade para a grande maioria da sociedade brasileira. Através de uma análise, baseada neste referencial filosófico, nos foi possível identificar cinco pontos que mereceram a nossa atenção: 1. Uma mudança de currículo é, sempre, um enorme desafio. A nossa sociedade e o nosso sistema educacional são, fundamentalmente, conservadores. O novo currículo aponta para uma educação democrática, contrário à tendência conservadora. Conclui-se que a implantação plena do currículo passará por grandes dificuldades pois terá que alterar o status existente. Não vencer estes desafios é perpetuar uma educação voltada para uma minoria privilegiada da população. 2. A organização e a implementação de um currículo deve espelhar o que se objetiva. Como está organizado nos faz acreditar que exista uma contradição: a divisão em áreas de aprofundamento sugere que exista uma incentivo à especialização antes que se garanta o conhecimento geral da profissão. Este aprofundamento fragmentado do conhecimento impede que o professor assuma o compromisso da profissão com a sociedade. 3. A inclusão de uma área de aprofundamento em lazer sem uma preocupação em orientá-la em termos de justiça social. O lazer tradicional se torna possível à medida em que pessoas adquirem tempo livre. A grande maioria da população não dispõe nem de tempo livre nem de recursos para se dedicar ao lazer. Uma área de concentração em lazer, portanto, não é coerente com os objetivos de uma educação democrática. Para que isto ocorra seria necessário que esta área de aprofundamento fosse dedicada à descoberta de formas alternativas de lazer para as classes menos favorecidas. 4. O comprometimento do elemento humano com as diretrizes no novo currículo. A reforma de um currículo não se completa no seu texto legal. Para que ele se torne efetivo é necessário que os docentes se tornem comprometidos com os objetivos da educação democrática, com o papel da educação transformadora. 5. A falta de integração das disciplinas - a necessidade da interdisciplinaridade. O texto do currículo aponta para eventos isolados como fomentadores da interdisciplinaridade. Não acreditamos que isto seja suficiente, é necessário que o fomento seja permanente e da responsabilidade de todos. Ser professor é entender o educando e a sociedade. Não se pode aceitar entender apenas o músculo, as emoções ou outro ponto isoladamente. Por último um entendimento que estes cinco pontos não são isolados mas que há enorme interação entre todos eles e, que é necessário que cada um seja orientado pelos conceitos de uma educação para a democracia que todo o processo se torne coerente. Esta seria a base de uma fundamentação teórica que nortearia toda a prática e que garantiria estar-se caminhando para uma sociedade mais justa e igualitária.

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