Resumo

A presente dissertação analisa, entre 1976 e 1979, as tensões entre as concepções de Educação Física escolar expressas nas edições da “Revista de Educação Física” – publicação editada pela Escola de Educação Física do Exército – e nos documentos oficiais referentes ao ensino desse componente curricular. O perfil teórico desta pesquisa incorpora contribuições oriundas dos debates travados no âmbito da Nova História Cultural, tal qual a concebe Roger Chartier. Dentro dessa perspectiva, as fontes contempladas neste estudo são tratadas como suportes materiais privilegiados para se deslindar lutas de representações travadas a fim de se conformar e/ou legitimar práticas exemplares daquilo que seus autores compreendiam como Educação Física escolar. Observa-se que, embora fosse uma publicação que se propunha a divulgar conhecimentos que servissem para impulsionar e revigorar os estímulos governamentais direcionados para o setor de Educação Física e esportes, a “Revista de Educação Física” (1976-1979) não pode ser caracterizada como um periódico monolítico. Verifica-se que esse impresso tratava-se de um espaço aberto para a exposição e o debate de ideias. Ideias essas que, no que diz respeito ao tema “Fundamentos pedagógicos da Educação Física”, na maioria dos casos manifestavam posições antagônicas às defendidas pelo governo ditatorial-militar brasileiro. Nota-se que, em linhas gerais, as discussões contidas no interior da publicação expressam embates travados por autores mais ou menos alinhados com duas concepções de Educação Física escolar distintas: o Pragmatismo, que concebia a Educação Física escolar como um espaço de formação de atletas de alto rendimento; e o Dogmatismo, que entendia a Educação Física escolar como um espaço de formação integral dos educandos. Conclui-se que, mais do que uma porta-voz do regime ditatorial-militar, a “Revista de Educação Física” (1976-1979) caracterizou-se, potencialmente, como um elemento dificultador da implementação de suas estratégias de conformação da Educação Física escolar. Acredita-se que, ao por em circulação percepções alternativas sobre o componente curricular em debate, esse impresso gerou, contraditoriamente, condições para que os profissionais da área pudessem se apropriar de concepções distintas das contidas no modelo propagado pelo governo autoritário.

Acessar