Integra

Um olhar rápido pela cidade já permite constatar a desigualdade na distribuição dos bens materiais/culturais. O Esporte enquanto uma manifestação social impregnada pelos valores da era moderna ocupa-se de uma parte um tanto visceral do cotidiano das pessoas, onde trás consigo as idiossincrasias de uma sociedade capitalista. Desde sua utilização ideológica para fins geralmente morais e cívicos (vide as propagandas com cenas de personalidades como Ronaldinho e Herbert Viana enfatizando a força de vontade do brasileiro em pleno ano de Olimpíada), até a comercialização de produtos ligados a ele, passando por questões como: tempo livre, acesso, trabalho, saúde, espaço. Portanto considerar a prática esportiva é debruçar sobre as implicações possíveis envolvidas no fenômeno.

Além disso os sentidos e práticas sociais produzidos ao seu redor não podem ser negligenciados. É, portanto, nos espaços da cidade e no cotidiano das pessoas e grupos sociais que o esporte encontra formas variadas de existência e manifestações. Portanto, levantar a situação atual e o potencial de desenvolvimento esportivo da cidade do Rio de Janeiro a partir dos locais já existentes para a prática esportiva (escolas, praças, clubes e etc.), identificando os significados destes equipamentos para a população e suas necessidade básicas de manutenção, se faz um ponto de fundamental importância para o desenvolvimento constante de políticas públicas que priorizem a formação social através do esporte.

Metodologicamente nossa intervenção se dá através da categorização dos espaços destinados à prática esportiva: escolas, clubes e praças. Além disso o trabalho se destina à coleta de dados como: localização, dimensões, estado de conservação e outros, de modo a perceber mais profundamente sua inserção,e alcance sociais. Tendo nos números e nas qualificações dos espaços as distinções entre vários paradigmas que fragmentam a sociedade, assumindo nosso caráter denunciador das graves diferenças sócias que assolam essa manifestação social.

Logo, tal mapeamento das instalações esportivas do estado, é de grande importância para redimensionar a oferta e a procura desses espaços esportivos nos vários setores da sociedade, bem como, para entendermos com mais clareza as necessidades de implementação de políticas diferenciadas para o esporte no país e na cidade do Rio de Janeiro, de acordo com as peculiaridades existentes em cada comunidade.

Na primeira fase do trabalho será feito o levantamento das instalações nos Bairros de Botafogo e de Bangu, tendo em vista a disparidade sócio-econômica entre essas localidades. No mais podemos afirmar, antes mesmo dos números e resultados finais desta fase inicial, que perante um quadro comparativo em diversas categorias, encontramos grandes distinções no que se refere à quantidade e qualidade das instalações esportivas nos dois bairros estudados.

O quadro atual do trabalho

Nesse momento, nos encontramos no Bairro de Botafogo e Bangu, pelo seu extenso território e principalmente pelo número elevado de instalações no bairro de Botafogo, o que se coloca como grande desafio, notadamente por não contarmos com o apoio dos setores públicos que deveriam facilitar nosso ingresso nas escolas, como colocaremos posteriormente.

Nos referindo especificamente às categorias escolar privado e escolar público, tivemos de acordo com a coleta de dados, um número extremamente superior na oferta dessas categorias na área situada na zona sul da cidade. O que indica que alguns fatores combinados e complexos possam interferir para que uma área seja mais bem equipada que outra. Tal constatação é somente uma das questões envolvidas aqui, pois se pensarmos em termos dos equipamentos esportivos distribuídos em praças e clubes, teremos um quadro interessante de análise, pelo menos dos bairros de Botafogo (Zona Sul) e Bangu (Zona Norte). Não que o número de instituições de ensino não represente significativamente o desenvolvimento social dos Bairros, o que queremos compreender aqui nesse trabalho, são as disparidades no quantitativo de equipamentos esportivos e sua utilização nos diversos espaços sociais da cidade, mais especificamente Botafogo e Bangu nesse momento do trabalho.

Seguindo algumas considerações sobre as representações calcadas na disparidade do oferecimento dos equipamentos esportivos, argumentamos sobre como o imaginário das diversas comunidades que compõem o quadro social da cidade, identificam em seus bairros as ofertas desses equipamentos e a possibilidade de utilização desses espaços. Peres (2003), trabalha com a elaboração de um possível Índice de Desenvolvimento de Acesso Cultural (IDAC), onde em seu trabalho travava-se o debate sobre o número de equipamentos culturais (Cinemas, Museus, Teatros e etc.) e o índice de desenvolvimento humano (IDH), apontando uma possível relação entre estes dois parâmetros. Não que esta relação aponte as especificidades sócio-econômicas determinantes para os espaços, mas em contrapartida aponta sim para um possível entendimento de como a distribuição destes equipamentos complexifica o ordenamento da localidade.

Deve-se ter em vista que o IDAC de modo algum expressa se uma determinada população é mais desenvolvida culturalmente do que outra - inclusive acreditamos que qualquer tentativa nesse sentido partiria de uma perspectiva limitada e etnocêntrica de cultura - mas trata-se de uma tentativa de revelar a desigualdade que uma determinada população está sujeita no acesso aos equipamentos culturais.(PERES, 2003. p. 07)

Não obstante as informações acima, ainda podemos situar, dentro de nossas observações, a grande dificuldade em obtermos o acesso às instalações categorizadas como escolar pública. Mais do que isso, nesses espaços significativos "não" nos foram colocados argumentos claros que representassem a negação de nossa solicitação. A secretaria Geral de Educação ainda se encontra omissa.

Assim encontramos na própria esfera pública, onde teoricamente teríamos que contar com o maior apoio para o trabalho, o total descaso para com a nossa investigação.

Nesse sentido podemos categorizar os ensejos governantes, diante as possibilidades de uma ampliação de suas políticas para a educação e para a prática esportiva, como fatores que passam a compreender o esporte e a cidadania como pilares de uma complexificação das relações sociais existentes, onde busca-se nos termos citados um entendimento diferenciado no que concerne a contestação da lógica sistêmica, vide a proliferação de espaços que buscam o desenvolvimento da prática esportiva, destoando assim todo o sentido formador presente em uma manifestação social como o esporte, em detrimento da sedutora propaganda do esporte enquanto um verdadeiro celeiro de novos talentos e a tal da formação cidadã:

A partir de um certo senso comum de que políticas esportivas que objetivam a formação de novos talentos representam um grande retrocesso, e que isto se relaciona com o projeto esportivo já amplamente criticada no âmbito da Educação Física, e em busca de novos paradigmas para legitimar tais políticas, atrela-se no discurso a relação entre esporte e cidadania. Não mais formar atletas, e sim formar cidadãos. (MELO, 2004. p. 177)

Mais do que isso o que queremos clarear aqui são as necessidades de uma outra política estatal para a educação e para o esporte.

Assim a negação concebida a nós, representa a falta de caráter social e de respeito para com a formação qualificada da juventude de nosso da nossa cidade e de nosso país.

Perspectivas de atuação.

Assim, após compreendermos algumas das várias nuances que compõem o contorno social dos bairros estudados assim como a intervenção da esfera pública com suas políticas, partiremos para trabalho em outros bairros da cidade. Sempre tentando manter nas localidades por nós pesquisadas uma dimensão distinta no que refere a diferença social e econômica dentro da questão aqui estudada, a desigualdade no quantitativo e no qualitativo do oferecimento dos equipamentos esportivos nos bairros da cidade. O que necessariamente contemplaria nossos anseios de investigação, principalmente no que tange a grande diferença na proliferação de equipamentos específicos para as práticas esportivas e conseqüentemente as políticas públicas e as iniciativas de caráter privado para a discussão do esporte enquanto um meio educacional.

Nesse sentido colocamos aqui alguma de nossas observações, e esperamos que possamos contar, principalmente com a boa vontade de nossas instituições públicas para o desenvolvimento deste trabalho.

Os autores: Bruno Adriano R. da Silva é daEEFD-UFRJ /-IVE, Cleber Augusto Gonçalves Dias é da UFF / IVE, Fernanda da Costa é da Ive, Keila Nunes Valenteé da EEFD- UFRJ / IVE . Marcelo da Cunha Matos é da EEFD-UFRJ / Bolsista-IVE e Guilherme Ripoll é da UFF / Bolsista - IVE

Referências

  • Melo, Marcelo, de Paula. Novas Configurações das Políticas de Esportes e Cidadania: Dimensões Críticas Desta Relação. Anais do V Seminário o Lazer em Debate, Rio de Janeiro,2004.
  • Peres, Fábio, de Faria. Lazer e Cultura na Agenda Local: Mobilização e Ação Coletiva em Manguinhos. Dissertação de Mestrado. Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro, 132pp.