Integra

O pressuposto tema vem a tratar de um trabalho realizado com menores, no Centro de Reabilitação de Crianças Infratoras de São Gonçalo, com uma óptica de educação voltada para os integrantes da instituição, imbuído de formar agentes transformadores sociais, utilizando a Ed. Física como instrumento catalisador do processo ensino-aprendizado.

Este Centro de reabilitação acolhe crianças menores de dezoito anos que praticaram atos considerados crimes pela Lei Penal. Se fossem adultos estariam num estabelecimento prisional. Mas são apenas jovens, algumas crianças, mesmo assim são peritos no crime e grandes mestres da vida. Conhecedores do mundo, estes rapazes tocaram no fundo da moral e chamaram de nomes as regras orientadoras da democracia. Quebraram todas as leis e mostram a quem quer ver aquilo de que são capazes. Não matar e não roubar, são fábulas para estes jovens. O martelo de um juiz deu o veredicto. As aulas não são desejadas e as regras são cumpridas contragosto. Ali, os jovens fazem uma pausa no crime, mas geralmente, apenas uma pausa.

Com dificuldade na educação dos jovens, a instituição não tem pleno controle na regeneração dos detentos, e visão que se tem deles, é que abandonados pela sociedade e obrigadas a seguir ordens, na forma de um quartel eles são prisioneiros de um sistema social.

Com trabalho árduo, de segregar a criminalidade dos jovens, a sociedade acaba marginalizando e discriminando. Os jovens não têm mais oportunidade de representar e expressar, são sufocados com adjetivos desqualificantes. Dando ênfase na marginalização sem esperança de retorno a sociedade, são considerados com anti-sociais, drogados, agressivos etc.

Fundamentados numa concepção de que separando as pessoas da sua realidade não fornece benefícios à educação temos, Thompson, Augusto que nos relata "Segregar não é educar".

A criminalidade é encontrada como fuga de seus problemas sociais. E a lei encontra a separação deles como uma panacéia. Praticando um retroalimentação nos problemas sociais. Conseguimos buscar em nosso trabalho a expectativa de formar um cidadão participativo, respeitador e criativo em seus momentos.

De forma dialética conseguimos abordar algumas características de nossos alunos (desacreditado, desestimulado, sem credibilidade, sem expectativa de vida, sem amor, sem esperança e individualista). Essas características encontradas nas aulas diagnóstica foram primordiais para utilizarmos uma concepção metodológica original para cada integrante.

A didática formal, conta com uma ação interpessoal do corpo discente com docente, deixando interagir em seu desenvolvimento. Buscamos através de uma "paixão nacional" , o futebol, recursos de intercâmbio do conhecimento.

Em meio a esta diversidade de condutas concluímos um aspecto que é comum entre as crianças, adolescentes. Todos estão envolvidos com o comércio e o uso de drogas, que é ilegal perante a sociedade, além de destacar que os infratores conhecem os efeitos que podem provocar.

Propondo uma visão e uma participação educacional na sociedade, pretendemos através do esporte auxiliar os adolescentes na sua escolha de vida. Contudo, sugerir um deslocamento dos jovens que aceitaram o trabalho, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação (projeto especiais) de São Gonçalo e a própria instituição.

Com condições precárias do local para as aulas de Educação Física, conduzimos com criatividade e prazer transformando em uma proposta significativa para os adolescentes. Apesar da instituição não ter condições de oferecer um aspecto didático necessário influenciando na forma de educar, a Educação Física traz uma idéia de regeneração dos integrantes. Segundo Violante:

"A institucionalização da marginalidade do menor deve-se ao modo dominante de interpretar as manifestações de suas condições marginais de sobrevivência - o trabalho não produtivo de seus familiares, o alcoolismo, a prostituição, o abandono, a separação do casal, e, neste contexto, os comportamentos do próprio Menor." (1985, p.23)

Percorrendo esta idéia, destacamos uma etnometodologia que cabe ao professor compreende-los e assimila-los dentro de sua cultura, para que com isso saiba usar de maneira psicológica e prática a vivência do menor.

Expressões que pouco são variáveis nos discursos de alguns autores como: desenvolvimento emocional incompleto, ausência de referencial próprio, estrutura de personalidade lábil, imaturo, influenciável, de ego frágil, infantil, ou carente ou estruturado ou em vias de estruturação, agressivo, com senso crítico precário, angústia primordial básica, contato inadequado com a realidade, déficit de julgamento, crítica e senso ético , dificuldade em aceitar a realidade, apático, desinteressado e inibido, isso tudo reprime seus afetos, com isso procuramos trabalhar o lado mais carente observado dos menores detentos, propondo uma Educação através do futebol, o qual foi o esporte de maior aceitação.

O futebol por ser um esporte coletivo, de "paixão nacional", de vibração, contagiante, prazeroso, e o qual os Menores detentos têm maior identificação, procuramos explorar, a fim de obter um melhor resposta dos Menores no meio prático, com isso demos oportunidade para aflorar e melhor trabalhar o lado afetivo, cognitivo e psicomotor, onde o primeiro podemos identificar logo na aula diagnóstica como o mais deficiente, e até então pouco sendo trabalhado. Tivemos até o presente momento um melhora significativa no lado afetivo, onde através de nossas orientações alguns "conseguem" se destacar da marginalidade, no lado cognitivo conseguimos melhoras em alguns, pelo simples fato que o próprio esporte pode oferece, jogadas, dribles e etc; no motor "pouco temos" o que trabalhar, afinal a vida de onde o Menor mora lhe oferece um campo bastante amplo onde já foi bastante trabalhado.

Contudo, concluímos que um método baseado na cultura esportiva, poderíamos tirar os recursos necessários para alvejar os objetivos almejados. Promover a cidadania e suscitar um espirito ético que prevaleceria. Essas características exigem que o corpo docente goste de seu trabalho e que tente romper uma barreira ainda muito obscura, goste das pessoas, e que tenha esperança no futuro, respeitando a cultura e sabendo trabalhar com a mesma, destacando que cada um integrante, terá seu direito de participar e criticar a sociedade. "Marginal" não é o indivíduo que produz sua condição marginal de sobrevivência ao emitir determinados comportamentos, ao não se submeter passivamente à sua condição insólita de vida. Marginal é a condição de sobrevivência que lhe está socialmente reservada.

Os autores: Acadêmicos Peterson Vieira C. Silva e Yuri Henrique A. Amorim, da Universidade Salgado de Oliveira ( UNIVERSO )


Referências bibliográficas

  •  Violante, Maria Lúcia V. O dilema do decente malandro. São Paulo: Cortez, 1985.
  • Thompson, Augusto. A questão penitenciária: de acordo com a constituição de1988.RJ: Forense, 1991.
  • Alves, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1991.
  • Laplantine, françois. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2000.
  • Piccolo, Vilma L.Nista. Educação Física Escolar: Ser ...ou não ter?.São Paulo: Unicamp, 1995.