Resumo

A intenção principal do estudo foi problematizar as práticas corporais vivenciadas como lazer e aventura em ambientes naturais, especialmente buscando pensá-las no contexto das formas contemporâneas de sociabilidade e processos de subjetivação, indagando sobre os liames sociais suscitados a partir da relação com tais práticas. Tratou-se de enfocar alguns aspectos destas experiências lúdicas e de sua vivência pelos indivíduos, relacionando-as a processos contemporâneos de subjetivação e formas de sociabilidade, especialmente considerando as relações de amizade, entendida como forma de subjetivação coletiva. O estudo partiu da seguinte indagação: em que medida é possível perceber na vivência coletiva de práticas corporais de lazer e aventura na natureza, especialmente aquelas relacionadas à montanha (caminhada, escalada, etc.), potencialidades para o exercício de novos processos de subjetivação e novas formas de sociabilidade, especialmente considerando as relações de amizade? Para esta pesquisa adotei um procedimento metodológico predominantemente etnográfico na observação da realidade investigada, procurando guiar-me munido especialmente da análise cultural proposta por Clifford Geertz. Impelido por esta aproximação etnográfica, utilizei-me de observações sistemáticas da realidade de dois grupos de praticantes de atividades ligadas ao montanhismo (Grupo de Caminhada Alternativa de Vida e Centro Excursionista Rio de Janeiro) ambos da cidade do Rio de Janeiro. Entre os membros destes dois grupos foram realizadas dez entrevistas semi-estruturadas, as quais buscaram abordar alguns aspectos principais da vivência desses sujeitos com tais práticas vinculadas ao montahismo. Dentre outros aspectos evidenciados na pesquisa, pode-se apontar significativos elementos de diferenciação e abertura encontrados nos grupos investigados, os quais parecem indicar uma forma diferenciada de vivenciar tais práticas corporais de lazer e aventura na natureza, assim como tendem a se constituir em espaços férteis para o exercício de novas formas de ser e se relacionar. Entre os sujeitos investigados, foi possível constatar que o envolvimento com tais práticas convida a novas ações e a uma forma diferenciada de relação do sujeito com o próprio corpo e com a natureza. A vida cotidiana no contexto pesquisado parece dar lugar a formas particulares de constituição de subjetividades e de relações interpessoais, articuladas sobretudo pelo envolvimento com as práticas corporais de lazer ligadas ao montanhismo. A vivência coletiva destas práticas são associadas sobretudo a momentos de intensificação da relação do sujeito consigo próprio e com a alteridade. Diante destes e de alguns outros aspectos, foi possível sustentar o argumento sob o qual o envolvimento com estas práticas coletivas de lazer e aventura na natureza podem, em algumas situações, ser entendidas como experiências existenciais férteis para o exercício de uma relação renovada do sujeito consigo mesmo, com o outro e com a natureza. Este exercício faculta aos sujeitos envolvidos a possibilidade de vivenciar processos renovados de subjetivação coletiva, podendo resultar em formas de amizade mais solidárias, livres e criativas.

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