Resumo

Os objetivos desta pesquisa estão delimitados pela compreensão da dinâmica cultural dos alunos que se situam à margem das aulas de Educação Física - na "periferia" da quadra -, análise da participação e apropriação das aulas de Educação Física por estes alunos, bem como a investigação dos fatores que permitem a existência do fenômeno da "periferia" da quadra. Para isso, o conceito de "periferia" da quadra não se restringiu somente ao significado de espaço físico dos arredores da quadra ou seus "cantos", mas também como uma referência subjetiva aos tempos da aula de Educação Física vivenciados pelos alunos que se distanciaram da proposta inicial do professor. O método de pesquisa centrou-se na etnografia, sendo o trabalho de campo desenvolvido por 6 (seis) meses com uma turma de 7º ano de uma escola pública em suas aulas de Educação Física. Em termos de procedimentos metodológicos foram utilizados entrevistas semi-estruturadas, análise de documentos e, principalmente, a observação das aulas de Educação Física. O referencial teórico desta pesquisa está calcado nas Ciências Humanas, principalmente em autores e obras que dialogam com a Antropologia e com a Educação. A partir desse escopo, pode-se chegar à compreensão de que o fenômeno da "periferia" da quadra não foi exclusivo de alguns alunos ou grupos de alunos, mas vivenciado por toda a turma. Tal quadro se desenhou não por opção dos alunos, mas pela existência de três fatores que determinaram a "periferia" da quadra: prática pedagógica esportiva e, predominantemente, não-diretiva do professor de Educação Física, compreensão de que a Educação Física era um tempo e espaço menos rígido do processo educacional e a tradicional rigidez escolar. Assim, a "periferia" da quadra configurou-se como um pedaço (Magnani, 1984, 2002) situado entre os ditames escolares e o convívio social mais amplo do aluno na escola. Ante o exposto, a "periferia" da quadra permitiu a existência de uma rede de sociabilidade nas aulas de Educação Física, vivenciada a partir de três modelos de participação: pedacinho (im)praticante, pedacinho ativo e pedacinho flutuante. A sociabilidade vivenciada pelos alunos a partir desses pedacinhos, apesar de possibilitar a vivência de outras relações na escola, deu-se no limite do conformismo declarado, esboçado em conflitos de gênero, prática irrefletida do esporte e na compreensão da Educação Física como um momento de sair da rotina rígida da escola. Dessa forma, houve, por parte dos alunos, uma apropriação limitada, para não dizer ausente, dos conhecimentos da cultura corporal. Entretanto, mesmo inseridos num horizonte limitador de ensino-aprendizagem da Educação Física - na "periferia" da quadra -, os alunos esboçaram críticas às aulas de Educação Física, ao professor e a escola, além de apontarem algumas alternativas. Por fim, conclui-se que a intervenção docente é significativa para a superação da "periferia" da quadra, pois, ao professor, cabe a responsabilidade de provocar novos arranjos frente ao conhecimento dos alunos, para que estes, mais instrumentalizados, possam inserir-se no mundo de forma mais livre e autônoma.

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