Resumo

Em tempo de megaeventos no Brasil, uma questão tem sido posta nos vários encontros entre especialistas e gestores esportivos nacionais: Quais serão os legados que tais eventos, como Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 deixarão ao país? Os legados físicos (tangíveis), semelhantes às obras de mobilidade urbana e instalações esportivas são menos complexas para quantificar. O que tem se mostrado difícil de descrever são os legados intangíveis, como os sociais e culturais.

Nesse aspecto, temos defendido nos encontros e seminários a necessidade de desenvolver ações para garantir ao país um legado cultural. Fomentar a cultura do esporte significa universalizar a prática esportiva, começando pela escola, a fim de assegurar a formação integral dos jovens. Se a escola é o lugar onde se universaliza o conhecimento e a cultura de várias disciplinas como, por exemplo, a matemática, a linguagem e a história, por que não ser o local onde se universalizam outras culturas, como a esportiva? Destacamos que o esporte é considerado o maior fenômeno cultural da humanidade, desde o século passado. 

Novos olhares sobre o esporte e, em especial, o escolar são possíveis graças à evolução das neurociências. Hoje, temos comprovado o papel que o esporte pode exercer no desenvolvimento cognitivo e nas funções intelectuais de quem o pratica. Funções tais como percepção, atenção, memória, antecipação e tomada de decisão podem ser melhor desenvolvidas com a prática sistemática do esporte. Evidente que o impacto será mais pronunciado quando ações pedagógicas nesse sentido forem desenvolvidas em idade escolar e em conjunto com outras atividades. As neurociências também têm demonstrado a importância da educação e da cultura, assim como o esporte, para o desenvolvimento da capacidade de modular as emoções, conduzindo a uma aprendizagem emocional. Dito de outra maneira, essa aprendizagem nos permite “escolher” a forma como respondemos emocionalmente as situações cotidianas. 

Essa aquisição é possibilitada pelas situações vivenciadas nas competições, quando é preciso controlar as emoções, mesmo diante das adversidades encontradas. 

Em outro campo, e não menos atual, está a questão dos valores. O olimpismo nos ensina que “é necessário combater a passividade instalada em torno da educação para os valores”. O trato pedagógico do esporte escolar deve ser assumido como um ato de resistência na busca de uma reflexão e construção em torno dos valores sociais. 

No esporte é possível vivenciar situações em que o comportamento assumido pelo jogador vai depender de como ele valoriza a ética e o fair play.

Do ponto de vista corporal, o esporte escolar tem destacado papel nos dias atuais, quando a epidemia de obesidade infantil, além de outras doenças, como diabetes, são motivos de preocupação por parte de profissionais de saúde e gestores públicos. Parte  da solução está no incentivo à prática esportiva e da atividade física, como forma de combater o sedentarismo.

Artigo originalmente publicado na Revista Clássico.com, ano 2, no. 9, 2013.