Resumo

O brincar tem sido cada vez mais estudado a fim de compreender como é formado o mundo vivido (Lebenswelt) da criança. Dois elementos marcantes, diferenciados e fluidos no mundo de movimento da criança são a intuição e a imaginação. Eles parecem conduzir o processo educativo com cuidado, envolvimento, brincadeira, arte e sentimento. Por isso, esse estudo objetiva descrever como a imaginação da criança é importante no brincar-e-se-movimentar, e como os fundamentos teóricos da Fenomenologia podem auxiliar na sua compreensão. Assim, optou-se como caminho metodológico a pesquisa qualitativa, com objetivos descritivos e procedimentos técnicos de natureza teórica e bibliográfica. O campo de pesquisa foi delineado pelo referencial teórico, que é inspirado na Fenomenologia e na cunhada ‘teoria do Semovimentar’, visando, com isso, ter uma concepção dialógica do movimento humano e do objeto de estudo – o brincar da criança. Com isso, procuramos concentrar nossas bases em estudos que contribuíram para uma visão dialógica do brincar e da educação como formação humana. Essas referências nos conduziram a autores como Edmund Husserl, Gaston Bachelard e Elenor Kunz. Os estudos referenciados levaram a compreender o imaginar e fantasiar como caminho primário da intuição, da sensibilidade e da criatividade da criança – elementos essenciais para a formação do mundo da vida do Ser Humano. Formação que acontece através das diferenciadas vivências e experiências, que precisam ser significativas e expressivas para a criança. Para isso acontecer, a criança precisa ser o centro da experiência. A experiência precisa permitir que o caráter intuitivo e expressivo do brincar-e-se-movimentar aconteça, que sejam criadas aberturas e possibilidades para que ela possa desenvolver e viver ‘a viagem’, o caminho da experiência. Isso envolve atividades abertas à criação, imaginação e desenvolvimento do caminho no processo educativo, nas quais não se estabelece cada trecho do percurso da experiência. Ao contrário, abrem-se possibilidades de experiências através de materiais, tempos, espaços e vivências que estimulem a criança a continuar a expandir o campo da intuição para além do real, no mundo sensível – para o tudo que é possível, ao explorar seu conhecimento intuitivo a cada dia e possibilitar a liberdade de sentido além do que é apresentado para nós. Assim, o brincar-e-se-movimentar criativo leva à possibilidade de ‘conhecer, fazer e conhecer esse fazer’, visando o mundo das experiências, a corporeidade, o mundo da vida da criança, com suas redes de mundos relacionais entrelaçados. Por isso, mostrou-se necessário considerar o brincar como diálogo, pergunta e não resposta definida, no qual a viagem (Erfahrung) da experiência é o real realizador da aprendizagem. Como um diálogo aberto e livre da criança com o mundo, o diálogo acontece mais livremente e principalmente através da interação com elementos da natureza, atividades com contexto, cenários e estórias, brincadeiras de faz de conta, atividades de circo, e contação de histórias. Estas parecem fomentar a liberdade, a vivacidade e a riqueza da imaginação no brincar-e-se-movimentar. Assim focamos no que é primordial, nos elementos primários que nos levam a ser humanos – a consciência, o outro, a arte, a natureza e a vida.

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