Resumo

O presente trabalho, adotando a linha de pesquisa em violência, crime e segurança pública, se propõe a analisar o fenômendo de assimilação cultural pelas torcidas gaúchas, da cultura de arquibancada de matriz platina, especificamente dos grupos de estilo nominados como barras e assimilados no senso comum como barras bravas, detentores de um código moral e de conduta baseado na violência, o aguante, a partir do grupo de estilo conhecido como Geral do Grêmio, torcida vinculada ao clube de futebol, Grêmio de Foot-Ball Porto Alegrense. Para tanto, será realizada a exposição pormenorizada das raízes, bem como das práticas, costumes, rituais e artefatos culturais dos grupos de barra argentinos, através da revisão bibliográfica de pesquisas de antropologia social realizadas naquele país, para logo após, expor um quadro comparativo, tendo como base o trabalho etnográfico efetivado junto a Geral do Grêmio, que adotou o paradigma metodológico das conceituações de etnografia líquida e do instante desenvolvidas pela criminologia cultural, sem deixar de referir a uma necessária alusão às peculiaridades geográficas e apropriações sócio culturais que tornaram possível este fenômeno para as torcidas gaúchas. Sobretudo o processo de construção mitológica do ideário guerreiro do gaúcho da campanha. Diferencia-se ainda a Geral do Grêmio dos demais grupos de estilo da cultura de arquibancada global. No que toca ao conteúdo analítico criminológico, se erige uma hipótese fundamentada na transcendência ao tédio que a rotina cotidiana cercada de insegurança ontológica, privação relativa, e reclames cada vez maiores de satisfação do individualismo, impõem aos sujeitos na sociedade ocidental globalizada da modernidade tardia, a partir de uma experiência sensorial individual de excitação e autocontrole alternativo ao controle social formal, pelo “descontrole” mediado, no perfazimento de atividades-limite conceituadas na criminologia cultural como edgework. Estas conceituações não teriam sido possíveis sem a contribuição prévia das análises agregadas de desorganização social e carência de valores formais já evidenciadas por Émile Durkheim e pela escola funcionalista de Chicago, sobremodo William Thomas e Robert Merton, guardadas as devidas diferenças de tempo e espaço. Merton é conjugado aos fatores de perfazimento de sedução e excitação inerentes ao ato transgressor observados por Jack Katz, na esteira do trabalho de Jock Young, e Thomas possibilita explicar o entrelaçamento entre os costumes dos grupos de barra argentinos àqueles que existiam na cultura de arquibancada gaúcha, vinculados às torcidas organizadas brasileiras, resultando em um grupo de estilo híbrido, nem brasileiro, nem argentino, a Geral do Grêmio, que posteriormente iria influenciar outros grupos de estilo da cultura de arquibancada gaúcha, e ser referência de criação de torcidas de alento pelo resto do país.

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