Resumo

Historicamente, a palavra desport ou disport, era utilizada na Idade Média para designar distração, divertimento. Hodiernamente, o desporto ganhou contornos e mediatismo peculiares, onde se assumiu, e continuar-se-á a afirmar, o fenómeno de maior magia deste e do século passado. Aos grandes autores literários, este fenómeno não se camuflou e não se fez passar despercebido, pelo que encontramos em muitas obras póstumas, o desporto como pano de fundo. Igualmente Vergílio Ferreira não se alheou a este fato e a sua escrita descreve episódios desportivos envoltos de um enredo fascinante e com soberba cientificidade. Apesar de nunca ter sido um praticante federado e fervoroso de desporto, o próprio interesse existencialista pelo corpo, na esteira fenomenológica, levou-o a criar romances e ensaios onde este era o palco desaguador de todos os mistérios da divindade do Homem. Como sabemos, para ele o desporto girava unicamente à volta do seu clube de futebol, a Académica de Coimbra, “o resto pouco vai além de um espreguiçar-me pela manhã” (CC ns IV, 25). Também os percursos de bicicleta eram uma constante, descritos na diarística com uma mestria, que só quem experimenta e sente verdadeiramente o corpo, o pode fazer. Ou as caminhadas na Avenida de Roma! Entre a sua escrita e o desporto, há uma constante metaforização, uma comparação, que comprova a afinidade entre estas duas atividades e que Vergílio Ferreira perspicazmente constatou. Se a escrita cansa, esgota, o desporto também. Se é necessário uma recuperação de forças depois da escrita, no desporto é pronunciado o mesmo caminho: “e é então preciso que o tempo me recomponha na minha vitalidade como ao atleta depois de uma prova desportiva…” (CC IV, 172) pois para terminar alguns dos seus livros, aquando das indesejadas constipações e tosse, “precisava de «estar em forma», como se diz no desporto, para a parte final deste escrito e volume” (CC IV, 480).

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