Resumo

O presente trabalho teve por objetivo geral investigar e delimitar, com base em análise sociológica proposta na obra de Pierre Bourdieu, questões ligadas às formas de interação social presentes no sub-campo do esporte paraolímpico brasileiro. Os objetivos específicos apontam para três esferas presentes neste espaço: processos de formação, recrutamento e atuação de classificadores paraolímpicos, responsáveis pela alocação dos atletas em classes de disputa; a ocorrência do profissionalismo de atletas e formas de distribuição de recompensas financeiras e simbólicas; a presença e formas de atuação de pessoas com deficiência na gerência e administração de entidades organizativas do esporte paraolímpico brasileiro (federações, associações, comitês, entre outros). A metodologia de pesquisa deu-se com base em três momentos. O primeiro em análise de referencial teórico da obra de Pierre Bourdieu, ligado à sociologia do esporte, e posterior conformação e descrição de elementos constituintes do subcampo do esporte paraolímpico. O segundo em coleta de dados através de entrevistas pessoais e semi-estruturadas, com sujeitos atuantes em funções técnicas e/ou administrativas específicas do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), ligados, cada um deles, a uma das esferas de análise, na busca de informações ainda não documentadas a respeito destas vertentes. A terceira, na discussão dos dados com base na identificação e conformação do sub-campo em análise, associando as informações obtidas às categorias sugeridas por Bourdieu para a interpretação de interações entre sujeitos num determinado espaço social. A análise de dados foi baseada na divisão das informações coletadas em três grupos, ligados às esferas já descritas. Tem-se como resultado ligado à esfera de classificação: Tendência de profissionalização e busca por protocolos científicos mais abrangentes; Busca por melhor formação e especialização do classificador, a partir de democratização relativa do conhecimento específico; É um espaço de disputas, tanto pelo acesso ao conhecimento específico, quanto à legitimidade de classificação. Quanto à profissionalização: Financiamento principal de órgãos públicos; Relacionamento de aproximação com a mídia; Grande profissionalização de atletas, mas pequena de técnicos, classificadores e administradores; Quanto maior o capital simbólico (mérito esportivo), maior o capital econômico acumulado - modalidades individuais; Busca por reconhecimento do esporte paraolímpico como produto. E quanto à administração: Disputa política entre duas classes; Uso do esporte como forma de posicionamento político-social de pessoas com deficiência; Questão do capital cultural institucionalizado é um problema. Como resultado geral, tem-se que o esporte paraolímpico brasileiro é um espaço de disputas pelo controle das práticas esportivas, políticas e comerciais, próprias do esporte contemporâneo do século XXI. Mas que ainda está em processo de conformação e afirmação de posição na sociedade. E que depende tanto de ações internas, quanto externas a seus limites sociais, visto sua autonomia relativa frente à sociedade esportiva e brasileira em geral, e suas conformações e características sociais.

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