Resumo

A presente investigação objetiva analisar a história do futebol em Belo Horizonte, Minas Gerais, entre as décadas de 1930 e 1940, mais precisamente a partir do ano de 1933, momento em que o profissionalismo foi adotado na cidade. Intenta-se verificar como a implantação desse novo regime impactou o cotidiano futebolístico da cidade, por meio da análise de um marco temporal ainda pouco abordado nos estudos históricos sobre o futebol na capital mineira. A década de 1940 recebeu especial protagonismo nesse estudo, a partir da abordagem de características peculiares àquele momento e à própria estrutura da cidade. Como método, foram pesquisados trinta e nove jornais e revistas que circularam no período, editados na cidade de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Buenos Aires (escolha que se balizou pelos próprios diálogos estabelecidos entre os três centros esportivos). Também foram consultados, em menor quantidade, arquivos pessoais e institucionais, além de relatos memorialísticos. A interpretação das fontes foi pautada pela construção de algumas categorias de análise: como amadorismo e profissionalismo; modernidade, tradição, classe, cultura e civilização; e a ideia de campo esportivo e distinção; todas elas atreladas à história da cidade de Belo Horizonte em sua relação com a prática esportiva. Em síntese, pôde-se constatar que o período pósprofissionalismo na capital mineira foi marcado por um cenário de intensos conflitos e mesclas envolvendo significações acerca do amadorismo e do profissionalismo que coexistiram em um plano discursivo que ora valorava a modernidade, ora valorava a tradição. Várias divisões de poder e de legitimidade conformaram campos esportivos distintivos, que após a implantação do profissionalismo, relegaram ao amadorismo um lugar periférico e desqualificado na hierarquia futebolística da cidade (o que contrastava com o crescimento exponencial dos clubes amadores em diversas localidades de Belo Horizonte). Outras questões podem ser elencadas como elementos conclusivos. As promessas do profissionalismo, quando de sua implementação, esbarraram-se em uma realidade concreta que criou novos desafios e novas demandas: problemas estruturais e financeiros dos clubes e a própria estrutura esportiva da cidade são alguns fatores. A efemeridade da profissão e a valorização de um corpo rentável (máquina) foram situações que impactaram mais precisamente os jogadores. Os problemas causados pela continuidade do êxodo dos atletas mineiros (um dos argumentos mais utilizados para a implantação do regime) impactaram diretamente os clubes e as tentativas de se igualar o estado às cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Por fim, a descoberta de novas informações sobre a decisão do América F.C em mudar as cores de seu uniforme contribuiu para repensar o próprio processo de implantação do profissionalismo em Belo Horizonte, além da produção de histórias oficiais e de mitos fundacionais, não somente em relação a este clube, mas em um contexto mais amplo de existência de outros clubes brasileiros.

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