Editora Imprensa Oficial de Minas Gerais. Brasil 2014. 40 páginas.

Sobre

D e um jeito ou de outro, a tabelinha entre o esporte e as letras sempre foi um elemento importante desse grande fenômeno cultural que é o futebol no Brasil. Afinal, os grandes craques e os times sensacionais só ganham sua dimensão definitiva quando viram assunto das reportagens, das entrevistas, dos livros, dos programas de rádio e TV, das canções, dos hinos e cantos das torcidas, dos blogs, das pesquisas acadêmicas e das conversas de bar. Como os heróis das antigas Olimpíadas gregas, eles precisam dos poetas para eternizar os seus feitos, para reverberar e dar forma às glórias, aos dramas e às tragédias vividas no palco-picadeiro dos estádios.

Em Minas Gerais, essa tabelinha teve a participação de figuras importantes da literatura, como Eduardo Frieiro (que fez parte da primeira geração de jogadores de futebol de Belo Horizonte), Aníbal Machado (autor do primeiro gol da história do Atlético), e depois Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Roberto Drummond e muitos outros. Mas contou também com nomes nascidos do jornalismo e do próprio esporte, que de algum modo flertaram com a arte da palavra: a acidez polêmica do cronista Malagueta, a vibração galopante dos narradores (Babaró, Jota Júnior, Jairo Anatólio Lima, Wilibaldo Alves), a memória infinita e gestual de Kafunga, a crônica da saudade de Plínio Barreto, o minimalismo de Fernando Sasso, a escrita elegante e sofisticada de Tostão, as biografias dos jogadores…

A proposta de mostrar um pouco dessa história acabou se equilibrando em duas linhas: a reflexão ensaística sobre o futebol e sua relação com a arte (a poesia e a tragédia, por exemplo), feita por professores e escritores mineiros que não escondem seu interesse pelo rude esporte, e a recuperação de uma memória esportiva de Minas Gerais e de Belo Horizonte, empreendida em textos de viés mais histórico. Completam o quadro algumas produções poéticas e ficcionais contemporâneas, pinçadas de um conjunto bem mais amplo de escritores que eventualmente escrevem sobre o tema. O grupo de estudos FULIA, da UFMG, assumiu a tarefa de organizar esta edição do Suplemento Literário.

Terminado o trabalho, nos limites do tempo, do espaço e dos recursos disponí- veis, a impressão que fica é a de que restaram muitas lacunas e ficaram de fora muitos fatos de primeira relevância na história da tabelinha entre o futebol e as letras em Belo Horizonte e Minas Gerais. Faltou Roberto Drummond, talvez o mais importante dos cronistas, e outros escritores que também se envolveram de alguma forma com o esporte, além dos já citados acima, como Abílio Barreto, Fernando Sabino, João Etienne Filho e Wilson Figueiredo. Sem falar na produção mais recente, de autores nascidos ou radicados em Minas, como Sérgio Rodrigues, que publicou no ano passado o romance O drible, e os integrantes do projeto Pelada Poética, que já deu origem a dois livros. Faltou Januário Carneiro e suas aventuras na Rádio Itatiaia, faltaram inú- meros narradores, comentaristas, colunistas, chargistas… Mas assim é a tarefa da invenção e da memória: sempre falta alguma coisa!

Marcelino Rodrigues da Silva é doutor em Literatura Comparada e professor da Faculdade de Letras da UFMG. Publicou diversos trabalhos sobre o futebol em Belo Horizonte e no Brasil, entre eles o livro Mil e uma noites de futebol: o Brasil moderno de Mário Filho (Editora UFMG, 2006). É pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes (FULIA).

Thiago Carlos Costa é mestrando em Teoria da Literatura e Literatura Comparada na Faculdade de Letras da UFMG, pesquisador do FULIA – Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes – e coordenador do Museu Brasileiro do Futebol, no Mineirão

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