Resumo

Este estudo possui como objetivo compreender o processo de formação de grupo no âmbito do futebol profissional. Implicitamente, pretendemos, diante da rotina profissional dos dirigentes/comissão técnica/atletas, averiguar como um grupo é construído, sob o viés estrutural e organizacional, mas sobretudo, sob a ótica das condições psíquicas postas no processo de desenvolvimento grupal. Além de verificarmos o perfil das categorias de base, com foco no processo de transição dos atletas formados/produzidos ao profissional, procuramos analisar as relações vinculares estabelecidas, com ênfase no sistema de atribuição e assunção de papéis, e as consequências psíquicas dos processos de mudança. Partimos de uma revisão bibliográfica e estudo de campo envolvendo observações e entrevistas (25 jogadores, 12 integrantes de comissão técnica e 6 dirigentes) em três clubes profissionais do futebol brasileiro. Nosso processo de busca bibliográfica procedeu do acesso às bases de dados Scielo, Scopus, Pubmed e ao Sistema Integrado de Bibliotecas. Em capítulos específicos, realizamos também buscas em mídias jornalísticas esportivas, em acervo virtual. Tais procedimentos metodológicos, ao também orientarem-se pelo referencial teórico de Pichon-Rivière e Bleger, nos levaram a associar a investigação psicanalítica à social por meio da análise psicossocial, sociodinâmica e institucional dos grupos investigados. O futebol profissional é um fenômeno econômico e comércio extremamente rentável, que se movimenta pela circulação de jogadores, cuja modernidade e espetacularização mobilizam, mundialmente, milhares de aficionados, praticantes e profissionais. Institucionalmente, se apresenta como uma organização conservadora, excludente, “fechada”, de privação e controle. Como parte de um cotidiano norteado pela pressão por resultados e rotina de treinos desgastante, física e psicologicamente, a concentração esportiva se mostrou, na perspectiva dos processos grupais, importante, se ressignificada. Neste contexto, fica configurado nos atletas e comissão técnica o negligenciamento de sua subjetividade e poucas possibilidades de ingerência sobre o futuro profissional e satisfação de suas necessidades, fundamentos motivacionais das configurações vinculares que, por sua vez, assumem características específicas, principalmente pelas constantes mudanças que estão sujeitos. Tais mudanças, assim como a privação de vida social, sentimento de saudades da família, ambiente de vestiário, papel desempenhado pelo roupeiro e as atividades lúdicas, se apresentaram como importantes emergentes. A assimilação de diferentes papéis sociais desempenhados não se dá de maneira harmoniosa, pois vivenciar e circular por eles são motivos de conflito interno e desestabilização nas relações vinculares. Parte desta dificuldade se dá pela notória disputa por determinados papéis a serem desempenhados no grupo, sobretudo aqueles que oportunizarão a satisfação de se sentirem notados, importantes, reconhecidos, valorizados e úteis ao grupo. Embora tenhamos constatado alguns acontecimentos que denotam adaptação ativa à realidade, por se tratarem de realizações individualizadas e não elaboradas numa perspectiva grupal, além de estarem mais próximas de uma adaptação que satisfaça os interesses e pressupostos dos clubes e empresários, podem ocasionar uma ruptura ou estereotipia no grupo. O recorte teórico adotado se mostrou válido, pertinente e significativamente importante nesta pesquisa, pois entendemos que a psicologia social postulada por Pichon-Rivière e as leituras de seus seguidores, não só permitiram, como favoreceram, nossa pesquisa de campo, bem como nossas interpretações e análises.

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