Resumo


No seu trabalho, Vigiar e Punir, FOUCAULT (1975) demonstra como o Panóptico de
Bentham, uma prisão particular, induzia nos prisioneiros uma constante automonitorização e o sentimento de serem dominados por um poder invisível. E o
princípio do Panóptico é conhecido: na periferia, uma construção em anel; no centro,
uma torre atravessada por largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel.
A construção periférica é dividida em celas, cada uma com duas janelas, uma para o
interior e outra para o exterior, permitindo que a luz atravesse a cela de lado a lado.
Basta colocar um vigia na torre central e em cada cela trancar um prisioneiro. Com
esta organização em unidades, o dispositivo panóptico permite ver continuamente
e reconhecer imediatamente (idem). Em trabalhos posteriores, Foucault desenvolveu
uma teoria relacionada com o cuidado de si e governamentalidade, salientando a
importância das tecnologias do self, isto é, técnicas que permitem aos indivíduos
efectuar operações nos seus corpos, alma, pensamentos, conduta e formas de ser,
transformando-se a si próprios, no sentido de alcançar um estado de felicidade,
pureza, sabedoria, perfeição ou imortalidade (FOUCAULT, 1988). Perante o exposto,
o objectivo do nosso estudo foi discutir o espaço do ginásio como um local que, em
determinadas situações e modos de ‘habitar’, se pode comparar ao Panóptico de
Bentham, mas cujas práticas do corpo se podem enquadrar nas tecnologias do self.
Os nossos dados foram obtidos através de uma descrição decorrente de uma pesquisa
no terreno e através da realização de 27 entrevistas semi-estruturadas. Estas foram
submetidas à análise de conteúdo, tendo emergido as seguintes categorias: objectivos
da prática de ginástica, opções de aulas, frequência e tempo de permanência, razões
para continuar no ginásio/academia/health club. Tal como foi evidenciado pela
descrição efectuada, são vários os factores estruturais do ginásio que lhe conferem
um estatuto quase de panóptico. Diríamos um panóptico situado, mas que faz parte
de toda uma conjectura social e cultural que se impõe em muitos dos campos
sociais em que os indivíduos têm que se mover. Por essa mesma razão, encontram
necessidade de cuidar de si, de uma forma disciplinada. Não deixa, contudo, de ser
uma experiência ambivalente, na medida em que sendo uma vontade própria de se
cuidar de si, pode ser resultado de uma coacção externa que subjuga. Como diria
Foucault, o indivíduo torna-se o princípio da sua própria sujeição..

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