Resumo

Neste estudo procuramos responder ao seguinte questionamento: que contornos assume a ‘legitimação’ da Educação Física (EF) na Escola Cultural? Para tal fim, examinamos a expressão cultural das concepções, dos currículos e das práticas dos professores de EF a partir da realidade de duas escolas sui generis, uma do Porto e outra do Rio de Janeiro. Nesse enquadramento, as questões investigadas foram: (a) Qual o papel da escola na formação do aluno, no caso particular da EF, na Escola Cultural?; (b) Em que medida os currículos incorporam essa expressão cultural?; (c) Qual o contributo das práticas dos professores de EF na ação educativa da Escola Cultural?; (d) Existem indicadores (expressivos) que indiretamente contribuiriam para a ‘legitimação’ da EF na Escola Cultural?; (e) Quais convergências e divergências emergem nos dois estudos?. Trata-se, portanto, de estudos de casos múltiplos em contextos simultaneamente similares e distintos; ambos aplicados no âmbito da lusofonia e distintos por constituírem realidades culturais, econômicas e sociais únicas. A pesquisa é de natureza qualitativa, com aporte da imaginação sociológica de Norbert Elias e Pierre Bourdieu, concomitantemente com a interpretação indutiva que aflora da Análise Crítica do Discurso. A tese valeu-se da abordagem multimétodos (observação participante, entrevista semiestruturada e a entrevista de grupo focal) em um processo de triangulação. A primeira etapa da pesquisa foi realizada entre os meses de setembro e junho da época letiva 2016/2017, tendo como base o calendário escolar vigente da Escola Básica e Secundária do Cerco. A etapa subsequente foi realizada entre os meses de fevereiro e novembro da época letiva 2018, tendo como base o calendário escolar vigente da Escola Municipal GEO Juan Antonio Samaranch. Constam como pesquisados diretos da primeira etapa: 2 Agentes diretivos; 3 Docentes; 5 Docentes de EF; 20 Discentes; 4 Encarregados de Educação. Posteriormente seguiu-se um delineamento equivalente, ficando acordado não realizar entrevista de grupo focal com os responsáveis (Encarregados de Educação) dos alunos. Diante disso, resta-nos admitir de antemão que o lugar da Educação Física na Escola Cultural é uma alegoria que acoberta o desígnio provocativo do estudo, visto que é utópica a intenção de ajuizar uma única escola como sendo o lugar da disciplina em questão. Da mesma forma, é utópica a  intenção de ajuizar uma escola como sendo categoricamente cultural em meio à contemporaneidade. Sendo assim, concluímos que tanto a Escola Básica e Secundária do Cerco quanto a Escola Municipal GEO Juan Antonio Samaranch, cada uma a seu modo e dentro de suas possibilidades, procuram resguardar a legitimidade da Educação Física. Não obstante, os dados mostraram que a força motriz do processo de escolarização é um fator predominante e divergente quando analisado o conjunto de valores que norteia o propósito das instituições. Nessa lógica, observamos que a Escola Básica e Secundária do Cerco possui uma visão voltada para a <> e a Escola Municipal GEO Juan Antonio Samaranch está direcionada para a <>, ou seja, a orientação do homem-menino da favela é determinada pela ordem de valores que ajuízam os pilares de cada unidade escolar. Baseado nisto, o ethos do aluno oriundo do bairro do Cerco é subjugado e tido como outsider. Neste mesmo sentido, observamos que o aluno advindo das comunidades conflagradas do Rio de Janeiro é percebido em sua natureza como diferenciação social positiva. Em resumo, o potencial natural para o Desporto é similar em ambos os casos, porém a resultante estará diretamente associada ao nível de estímulo

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