Resumo

Os Centros de Memória da Educação Física e Esporte (CMs) das universidades federais brasileiras são lugares de memória e espaços privilegiados na produção da História da Educação Física e dos esportes. O objetivo geral deste trabalho foi analisar o movimento de constituição desses centros, buscando entender as condições teóricas, estruturais e pessoais que tornaram possível sua permanência ou descontinuidade de atuação. Para tanto, adotei o recorte temporal de 1996 a 2014, período compreendido entre a criação do primeiro centro e a do mais recente, respectivamente o Centro de Memória do Esporte da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Memorial do Centro de Educação Física e Desporto da Universidade Federal de Santa Maria. Fundamentada no aporte teórico-metodológico da História Cultural e da História Oral, analisei a trajetória de dez Centros de Memórias da Educação Física, destacando aspectos relacionados ao trabalho que estas instituições vêm desenvolvendo há mais de 20 anos. Para tanto, utilizei fontes de naturezas diversas obtidas por meio de pesquisas em bases de dados e em publicações acadêmicas e não acadêmicas, além do material coletado nas observações que realizei em quatro centros e da realização de 36 entrevistas. Os CMs analisados foram criados por iniciativa de docentes, que em sua maioria realizavam pesquisas historiográficas A continuidade do trabalho de alguns CMs se deu pela ampliação de ações de preservação, pela realização de atividades de pesquisa e pela divulgação do acervo que guardam. Porém alguns CMs também tiveram momentos de redução ou descontinuidades de suas tarefas cotidianas, principalmente por afastamento de professores/as e dificuldades de infraestrutura. Olhando para as diferentes trajetórias analisadas e com base em autores da área das Ciências da Informação, entendo que os CMs são lugares de memória universitários, que se propõem a guardar, recuperar, preservar, divulgar, pesquisar e produzir registros sobre a memória e a História da Educação Física. Eles também são locais para reunir e formar pessoas. Seus acervos têm especificidades, mas são compostos em sua maioria por materiais vinculados às instituições que os abrigam e a docentes que fizeram parte dos seus quadros. Constituindo-se como parte da universidade, têm uma estrutura mínima garantida que os tornam possíveis, mas também enfrentam dificuldades de adequação de espaços e formação da equipe com profissionais. Possuem uma diversidade de atividades que integram formação, investigação e acesso à informação pela comunidade de dentro e fora das instituições, o que revela uma incorporação da cultura e função social da universidade. Por fim, destaco que a criação dos CMs foi influenciada e possibilitada pela formação de um quadro docente a partir de referenciais da renovação historiográfica da Educação Física brasileira. Essas pessoas se envolveram no cotidiano dos CMs por motivos acadêmicos e também por um envolvimento pessoal e por um compromisso político com a História da Educação Física e dos esportes.

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