Resumo

O presente estudo está voltado à leitura das crônicas de futebol escritas por Nelson Rodrigues, um espólio muito pouco estudado de sua obra, ainda que ele tenha cultivado diariamente esse "gênero" por cerca de 25 anos. A pesquisa procura demonstrar como seus textos de futebol atuam no sentido de desconstruir as linearidades - visuais e textuais - a que o leitor comum está acostumado: utilizando-se de procedimentos "neobarrocos", como a criação hiperbólica de imagens, e realçando o movimento da oralidade na escritura, Nelson Rodrigues ofereceu-nos não apenas textos jornalísticos, mas sobretudo "narrativas de futebol" de construção puramente literária. Dada a pequena existência de estudos acadêmicos na área de comunicação a respeito do futebol, a dissertação concentra-se primeiramente em discutir a importância desse esporte e como ele está inserido no panorama cultural brasileiro. Num segundo momento, estuda-se brevemente o surgimento e a evolução da imprensa esportiva brasileira e como Nelson Rodrigues se insere nesse contexto a partir da década de 50. A maior parte desta pesquisa, no entanto, dedica-se a analisar e interpretar os textos narrativos de Nelson a partir de pressupostos da estética neobarroca, conforme formulações de diversos escritores latino-americanos (notadamente Severa Sarduy). Mostra-se assim como Nelson Rodrigues presentifica o neobarroco em seus textos como alegoria do gozo no espetáculo performático, como transbordamento de imagens e exercício lúdico. Além disso, a dissertação elege uma série de características próprias que afloram a todo instante na leitura dos textos selecionados, como o riso e a predominância das funções fática, conativa e poética do código (cf. Terminologias de Roman Jakobson). Por último, discute-se o "diálogo" que o autor estudado mantém com a crônica esportiva brasileira (com que ele travava duelos infernais) a partir de um discurso que ele estabelece como fator de persuasão e criador de metalinguagens do próprio ofício do cronista esportivo.