Resumo

Imagens fortes, rituais e simbolismo têm sido os elementos básicos que dão sustentação aos eventos de competição esportiva. Quando se converte em estratégia de desenvolvimento vinculada ao modelo de gestão empresarial da cidade, a produção do espetáculo esportivo se revela capaz de produzir ampla mobilização de capitais econômicos, políticos e simbólicos, resultando em rupturas e realinhamentos nas diversas dimensões do espaço social nos territórios onde é recebido. Através de uma abordagem que utiliza como ferramenta analítica a noção de campo de Bourdieu, o trabalho objetiva explorar as relações de poder envolvidas na convergência entre o campo onde se produz o espetáculo esportivo e aquele onde se produz a cidade e as rupturas na dimensão político-institucional resultantes desse encontro. A partir de uma opção metodológica que leva em conta a transescalaridade dos fenômenos sociais, a pesquisa adota como principal objeto de observação na escala local os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro e se concentra no entendimento das estratégias, disputas e coalizões entre sujeitos individuais e coletivos que constituem os grupos hegemônicos nos campos em estudos. Os dados observados sugerem que, ao se constituir como universo social relativamente independente em relação a pressões externas, o campo no interior do qual se produz o espetáculo esportivo funciona como meio para submeter a cidade e seus habitantes às pressões do campo econômico a cujo domínio também se sujeita.