Resumo

O universo marítimo sempre esteve presente no imaginário dos indivíduos. Porém, no decorrer do tempo, esse espaço natural nunca foi vivenciado e partilhado da mesma forma. Em outras palavras, somente com o avanço do processo civilizador, os agentes passaram a ter uma melhor relação com o território marítimo, até que se sentissem confortáveis em domesticar esse ambiente, a partir do arrefecimento de seus medos e receios (PEREIRA, 2014). Dito isso, o presente estudo tem por objetivo realizar uma incursão histórico-social sobre a relação dos agentes sociais com a natureza marítima, amparados nos pressupostos da teoria de Norbert Elias e Pierre Bourdieu, por meio de uma análise documental. Nesse percurso histórico-social verificamos que na Idade Média muitas pessoas evitavam o mar, porque acreditavam que água estava associada ao aparecimento de doenças e pragas. Anos depois, a natureza marítima foi muito utilizada para a realização de contravenções, a exemplo das invasões normandas. Já no final do século XVIII a aproximação com o litoral começa a se dar pelas teorias médicas que vigoravam na época (WALL, 1985). No Brasil, o processo de ingresso a praia deu-se de maneira bastante similar, estimulados por estudos, como a publicação do “Manual do Banhista” ou “Estudo dos Banhos de Mar” de Manuel Vieira da Fonseca socializado em 1876 (PEREIRA, 2014). Essa concepção de “praia terapêutica” herdada de um habitus de classe em congruência com a medicina, pautava-se no discurso de excelência do corpo. No século XX revela-se mais claramente a praia atribuída ao lazer, destituindo a concepção de praia medicinal, para o ingresso da “praia lúdica" (MACHADO, 2000). A praia como ambiente de lazer corresponde ao relaxamento, a diminuição da tensão e o aumento da libido, enquanto a praia terapêutica associa-se a elementos frios, que representam a moderação e a austeridade (MACHADO, 2000). Dessa forma, com o passar do tempo, as pessoas foram ficando mais íntimas da praia, modificando as suas relações com espaço que vai além da simples contemplação da natureza marítima ou dos banhos de mar, se tornando um lugar de convívio e de relações sociais.

Referências

MACHADO, H. C. F. A construção social da praia. Cadernos do Noroeste, Série Sociologia, v. 13, n.1, p. 201-218, 2000.

PEREIRA, A. Q. A vilegiatura marítima moderna: Múltiplas escalas espaçotemporais. In:

PEREIRA, A. Q. A (Org.). A urbanização vai à praia: Vilegiatura marítima e metrópole no Nordeste do Brasil. Fortaleza: Edições UFC, 2014. p. 21-60.

WALL, G. The english seaside resort: A social history 1750–1914. Annals Of Tourism Research, v. 12, n. 4, p.662-664, jan. 1985.