Resumo


O PIDIB – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – é um programa instituído nas universidades com o intuito de aproximar as licenciaturas e o ambiente escolar. Os grupos cujo trabalho é aqui relatado estão localizados na UNICAMP. Um dos grupos é multidisciplinar voltado para a discussão das relações humanas entre os diferentes sujeitos que compõem o cotidiano escolar, na tentativa de identificar problemas de violência, agressividade, bullying e preconceitos diversos. A escola na qual este projeto se desenvolve é a E.E. Guido Segalho, em Campinas – SP, e é supervisionado pelos coordenadores da escola, André Uemoto e Fátima Galzerani, e coordenado pelas profas. Dras. Elaine Prodócimo e Eliana Ayoub. O projeto conta com 20 alunos de licenciaturas em educação física, artes, pedagogia e geografia e teve início no ano de 2010. O público alvo do projeto são alunos do ensino fundamental II e ensino médio. O outro projeto aqui relatado é específico da educação física, e busca debates no âmbito escolar no que tange à discussão de gênero e sexualidade. O projeto é desenvolvido pela professora Dra. Helena Altmann e supervisionado pelas professoras Juliana Jacó e Simone Cecília Fernandes, e se desenvolve em duas escolas: a E.E. Sophia Velter Salgado e a E.M.E.F. Edson Luis Lima Souto. Este projeto conta com alunos da educação física e artes e se iniciou no segundo semestre de 2012.
O PIBID possibilita que os alunos de graduação possam ir para a escola antes de completar a formação em licenciatura e vivenciar uma prática docente diferenciada das atividades obrigatórias de estágio. Um dos méritos do Programa está no espaço ocupado pelo bolsista na escola, assim como suas possibilidades de ação e interação no ambiente escolar, que vão além das experiências comumente vividas quando se trata de um estágio. O projeto representa um importante elo entre o conhecimento vivido e construído no âmbito acadêmico e a prática da docência na escola pública, ou seja, transpõe a insistente barreira existente entre a ciência e a técnica, ou ainda, entre a teoria e a prática, e se aproxima do verdadeiro conhecimento sobre o qual fala Jorge Larossa (2002): o conhecimento da experiência.
O que nos aproxima da explanação de Larossa é a possibilidade de formação e transformação a partir da experiência, a partir daquilo que passa e acontece ao sujeito. Ao olharmos para a experiência como mediadora entre o conhecimento e a vida partimos de um saber construído lentamente, subjetivamente, e que adquire sentido e significado na medida em que o sujeito experimenta ser tocado. Portanto, ao passo que o conhecimento pode ser comum, a experiência é sempre singular, única para cada sujeito.
Essa outra forma de entender a construção do conhecimento proposta por Larossa ilumina entre a escola e a universidade e cria novas possibilidades para se pensar a importância das experiências dos alunos de licenciatura que entram na escola a partir dos projetos do PIBID e as experiências vividas pelos sujeitos da escola, alunos, professores, funcionários e gestores, quando recebem os projetos PIBID.

A partir destas considerações temos como objetivo relatar a importância deste saber pautado na experiência, na construção de uma formação mais ampla na licenciatura e até mesmo na construção de uma nova ideia de escola dentro das licenciaturas. Para isto, nos basearemos no relato de experiências das autoras – alunas do PIBID que hoje se tornaram professoras da rede – para constatarmos a importância desta experiência na construção de um saber docente.
Os espaços de inserção dos alunos PIBID dentro da escola se mesclam entre a ampliação do olhar restrito do estagiário – geralmente levado à análise de uma única aula, fragmentando o olhar sobre o espaço da Escola - e entre um empobrecimento dentro desta mesma questão, já que os alunos, não sendo estagiários específicos de uma modalidade, ficam mergulhados no espaço escolar, apenas cobrindo ausências (SOARES, 1996). Desta forma, os olhares cruzados proporcionados pela vivência do PIBID ora se aproximam de questões administrativas e embates políticos dentro da escola, ora se aproximam dos conteúdos disciplinares e extra curriculares possíveis dentro das disciplinas escolares.
Ser um ‘meio termo’, dentro da escola – alguém que não é estagiário, mas também não é ainda o professor – permite também aproximações e distanciamentos às formações, regras e outras questões hegemônicas dentro da escola. O trato aos alunos, a questão dos intervalos, filas diferenciadas entre meninos e meninas, sinais que remetem à ordem militar, conversas da sala dos professores: detalhes que outrora passam sem significações aos nossos olhos tornam-se logo objeto de discussão dentro de um grupo que pretende pensar a escola.
Ao mesmo tempo em que nos aproximamos da prática docente, aprendendo com os próprios docentes e com os alunos, levamos também informações, opiniões e discussões que as vezes se perdem dentro dos muros da escola. A ideia de que as teorias não resolvem os problemas reais da sala de aula parece ser palavra de ordem nas discussões. Assim, alunos que se preparam – com as teorias – para realizarem transformações nas práticas, e não apenas desejam ‘aplicar’ a teoria na sala de aula, e sim possibilitam um olhar reflexivo à escola. Por mais que o espaço destinado a este aluno seja a tênue linha entre a docência e o estagiário – linha pontilhada, que ainda é quase imperceptível dentro do ambiente escolar – os projetos cumprem com a ideia de contribuir com as escolas no que diz respeito a novas ideias e pensamentos.
Por tais motivos o PIBID é um projeto que propõe inovações na formação de professores, é um passo importante para a conquista da qualidade docente na rede pública de ensino. Portanto cabem às universidades, que fazem parte do programa e que compartilham desse diferencial no âmbito das licenciaturas, repensarem a formação de professores e a iniciação da prática docente ainda durante a graduação.
 

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