Resumo

O tempo estrutura ordenadamente o quotidiano dos indivíduos, que passa
pelo chronos e pelo tempus. Ousamos sugerir que o tempo da vida existe ao
ser produzido por um sentido; pois este está presente em qual quer matéria,
em todas as questões vigentes, sem no entanto ser apanágio de nenhuma delas.
Este estudo visa compreender quais os sentidos do tempo de reforma no
quotidiano de idosos que praticam atividades físicas regularmente. O grupo é
composto por idosos de ambos os sexos, numa faixa etária compreendida
entre 65-80 anos inclusive, todos reformados e participantes num programa
dinamizado pela Câmara Municipal de Valongo, Portugal. As articulações
metodológicas deste estudo qualitativo e inserem-se na perspectiva sócioantropológica situadas no âmbito fenomenológico-existêncial. Obtivemos os
dados com base em recolhas etnográficas que seguiram os princípios da
fenomenologia; perceber a ação "ao nível do sentido do vivido". E para tal
foram realizadas no local onde as atividades acontecem. Guiamo-nos pela
concepção que GEERTZ (1989) possui acerca da antropologia, "como um ato
interpretativo". E estas foram feitas a partir dos discursos dos idosos e não
pura e simplesmente sobre um texto, o que por conseguinte pode ser
confrontado com o objeto ali expresso, possibilitando-nos a sua validação. A
partir de uma escuta às entrevistas semi-estruturadas, recortamos, descrevemos
e interpretamos os discursos dos idosos, aceitando desde o princípio, que a
descrição e a interpretação coexistem e interagem durante todo o processo,
pois na própria descrição está contida a interpretação. O estudo evidenciou
como resultados, a partir das palavras-chave que emergiram dos discursos -
sociabilidade, saúde, compromisso, longevidade e felicidade - que os sentidos
atribuídos ao tempo de reforma sofreram modificações após a inserção no programa
de atividades físicas. Assim, com base nas teorias revisadas, concluímos que os idosos
encaram o seu pertencimento no grupo como continuidade de um compromisso,
equivalente ao tempo de trabalho, todavia o tempo de reforma ainda é representado
como uma liberdade equivalente à felicidade, pois agora conseguem gerir o seu
próprio tempo. Supostamente surge um embate entre um tempo físico (chronos) e
um tempo subjetivo (tempus). O tempo vivênciado, nas atividades físicas é medido
por cada indivíduo e a sua fluidez varia de acordo com os sentidos atribuídos por
cada acontecimento.

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