Resumo

Ontem, hoje, amanhã: a presença explícita do tempo. Palavras que fazem lembrar o poema de abertura de Os Quatro Quartetos de T. S. Elliot: O tempo passado e o tempo presente Fazem todos parte do tempo futuro. Elliot apontava aqui, indubitavelmente, para a unidade do tempo. O tempo presente foi futuro, antes de ser o tempo que foi, para o tempo passado. O tempo presente tornou-se passado quando o tempo futuro se tornou presente. Quando um tempo se instala desinstala outro tempo. Quando um tempo se instala, instala a realidade que lhe pertence. Ele não é, em rigor, essa realidade, mas é como se a fosse. Com efeito, a desinstalação dessa realidade é a desinstalação desse tempo e a desinstalação desse tempo é a desinstalação dessa realidade. Todavia, essa realidade é o que esse tempo traz consigo, não o que esse tempo é. O tempo, que mistério! Santo Agostinho disse dele, positivamente, esta coisa tão pouca e tão profunda, no Livro XI das Confissões: “O tempo é uma certa distensão”. É, pois, um certo movimento. Movimento elástico. Movimento de qualquer coisa. De algo. Que algo? O filósofo de Hipona não o disse. Nós podemos arriscar: movimento do Ser. Talvez, dizendo melhor: movimento de ser. Talvez ainda melhor: movimento do Ser a ser. Os alemães dizem: seiende. Os franceses dizem: étant. Os ingleses dizem: being. Nós também dizemos sendo. Mas dizemos, além disso, por sobre isso, a ser. Damos o ser na sua pulsação. No seu palpitar. No seu movimento vivo, real, de ser. Sendo não diz o mesmo que a ser. Sendo é a fixação, a paralisação, do movimento vivo de ser. A Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2002, vol. 2, nº 4 [124–126] 124 ser é um movimento vivo na sua pulsação real. A ser dá o movimento do tempo presente para o tempo passado e do tempo futuro para o tempo presente. O tempo presente vai, o tempo futuro chega. E logo vai. E logo outro chega. “O tempo é uma certa distensão”. Platão disse de outro modo, e talvez outra coisa: “O tempo é a imagem móvel da eternidade”. O filósofo de Atenas é um dualista integral. Há a Eternidade e há o Tempo. Há o Mundo Inteligível — Mundo da Eternidade — e há o Mundo sensível — Mundo do Tempo. Há o Conhecimento da Eternidade — o do Conceito — e há o Conhecimento do Tempo — o da Sensação. “O Tempo é a imagem móvel da Eternidade”. O Tempo, no fim de contas, é ainda um modo da Eternidade: um modo de a Eternidade se mostrar, como imagem de si. Ao Conhecimento por sensação, que é o próprio do Tempo. O Tempo sentese. Sente-se como uma certa distensão. Por isso Santo Agostinho também disse do Tempo: se me perguntarem o que é, não sei; se não me perguntarem, sei. O que se sente não é respondível; só é respondível o que se pensa. O Tempo sente-se. Todavia, não desistimos de o pensar. Aristóteles pensou- o assim: o Tempo é a medida do Movimento. Que o Tempo é indissociável do Movimento, eis o que parece óbvio. É ele o próprio Movimento? Ou é, como disse Aristóteles, a medida do Movimento? E nós perguntaremos: a medida do movimento ou aquilo que a medida do movimento mede? O Tempo é a sua própria medida, ou diferente da sua medida? Há entre o Tempo e o Espaço uma relação íntima. O relógio é uma extraordinária invenção humana que assenta nessa relação. Com efeito, o que o relógio faz é medir o Tempo por meio do Espaço. O que os