Resumo

Um dos desafios nas grandes cidades em relação ao lazer atualmente é o acesso aos espaços públicos e às vivências culturais a todos os cidadãos, os quais fazem parte do direito à cidade. No Brasil, acompanhando uma tendência internacional, uma forma de ocupação e apropriação dos espaços públicos para vivências de lazer que vem ocorrendo são os encontros circenses (FERNANDES, RIBEIRO e BORTOLETO, 2015). O objetivo deste estudo é discutir e refletir sobre esses encontros como possibilidades significativas de lazer na cidade. Para isso, realizamos uma pesquisa bibliográfica (LIMA; MIOTO, 2007), com ênfase em estudos recentes sobre esse tema. Cabe destacar que o circo tem se manifestado de diversas maneiras e, no caso brasileiro, após a década de 1990, houve o surgimento de convenções e outras formas de encontros que reúnem artistas e praticantes entusiastas, que buscam novos contatos e a troca de conhecimentos (BORTOLETO, 2016; DUPRAT, 2016; CONVENÇÃO BRASILEIRA DE MALABARISMO E CIRCO, 2016). Tais encontros são muito diversificados e disseminados por todas as regiões do país, têm durações variadas, em alguns casos com periodicidade semanal e, em outros, esporádica (RIBEIRO, BORTOLETO e FERNANDES, 2014). Nessas vivências de lazer ocorrem, entre outras coisas, o intercâmbio de conhecimento e o aprimoramento técnico-artístico. Nossos estudos mostram que os encontros semanais têm crescido em número e proporções em todo o país, mas é na região sudeste onde acontecem com maior ênfase. Estudos realizados na cidade de Campinas e na capital do Estado de São Paulo (FERNANDES, 2015a; 2015b, 2016) revelam, por exemplo, tratar-se de iniciativas geridas por grupos de pessoas voluntárias e são praticadas atividades como o malabarismo, equilibrismos (monociclo e na perna de pau), acrobacias (de solo, mão a mão) e até mesmo modalidades aéreas (tecido, trapézio, lira etc). Outras práticas têm sido observadas, como a de atirar facas e equilíbrios de objetos incomuns para essa finalidade (como bicicletas e instrumentos musicais, por exemplo), assim como a incidência regular de apresentações abertas (cabarés, mostras) e indicam que os encontros podem ser observados como espaços de experimentação artística também. A maioria desses encontros acontece em espaços públicos como praças, ruas, becos, pontes e até mesmo no interior de universidades públicas e sem o apoio do poder público (FERNANDES, 2015a; 2015b, 2017). Os encontros de circo reúnem pessoas de diversas classes sociais e gêneros, o público é composto fundamentalmente por artistas e entusiastas (novatos ou experientes), majoritariamente jovens ou adultos. Os encontros proporcionam uma interessante aproximação entre artistas experientes e iniciantes e contribuem com o direito ao lazer e à cidade. Parece-nos que por meio desses encontros as possibilidades de troca, de diálogos com diferentes opiniões e gostos, de conhecimentos e experiências sobre o circo são potencializadas, bem como o fomento do convívio social e de práticas culturais e de transformação desses espaços (FERNANDES, 2017).

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