Resumo

Nossa contribuição visa a um estudo sobre a recepção da imagem dos Jogos Olímpicos de Berlim veiculada pela imprensa brasileira. Na História das Olimpíadas da Era Moderna, os XI. Jogos Olímpicos de Berlim são apontados como um dos maiores exemplos de instrumentalização do esporte por parte de um regime totalitário, para fins políticos e ideológicos. Nunca o ideal olímpico, resgatado e atualizado no final do século XIX por Pierre de Coubertin (1863-1937), foi tão deturpado e abusado até as últimas consequências como naquelas duas semanas de agosto de 1936. Para seus idealizadores, a Olimpíada serviria de “vitrine”, através da qual a cúpula nazista empreenderia todos os meios para mostrar ao mundo – e, portanto, fabricar – uma bela imagem da “nova” Alemanha, bem diferente daquela vivenciada no dia-a-dia de um Estado totalitário, erigido sobre a base de uma ideologia carismática e imperialista defendida por um líder, um único partido populista, aparelhos de repressão e um monopólio de armas, informações e propaganda. Tal “vitrine” foi minuciosamente preparada por um aparato estatal nos mais diversos âmbitos. Guardadas as devidas proporções, podemos considerar aqueles Jogos como sendo o primeiro megaevento esportivo na Era Moderna, enquanto “evento de mídia” (John Thompson), propenso à “espetacularização” (Pierre Bourdieu). A partir dessa ideia de “vitrine” que havia sido preparada minuciosamente para expor a “nova” Alemanha sob o jugo nazista, devidamente “maquiado”, surgiu-nos uma questão fundamental: em que medida tal “vitrine” foi eficaz em seus propósitos? De antemão, parece ser difícil mensurar tal dimensão. Todavia, é justamente esseo desafio assumido ao intentarmos realizar um estudo sobre a recepção da imagem dos Jogos Olímpicos de Berlim pela imprensa brasileira, através de análise de matérias publicadas no Jornal dos Sports, no Correio da Manhã e no Jornal do Brasil, tomados como fontes históricas. O que se propõe com este estudo é, justamente, proporcionar um olhar para a Olimpíada de Berlim que diga mais a respeito de certo parentesco ideológico entre a Alemanha nazista e a Era Vargas, revelado por certos “valores” partilhados. Por seu caráter transdisciplinar, o estudo demanda conhecimentos de mais de um campo do saber: a História, a Comunicação e os Estudos da Linguagem. Entendemos que, ao lidarmos com os Jogos Olímpicos de Berlim e com a recepção e divulgação de sua imagem através de jornais brasileiros, podemos estabelecer relações de comparação entre os modos como o esporte olímpico é visto tanto no contexto alemão, quanto no contexto brasileiro, inclusive, no sentido de associá-lo tanto a projetos políticos totalitários, como no caso da Alemanha nazista, quanto a projetos políticos autoritários, como no caso do Brasil na Era Vargas.