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“Pague-me agora ou Pague-me Depois: Dez anos se passaram e vimos alguma mudança?” foi o título de um artigo que escrevi há 10 anos. Ele apareceu em uma monografia do “Journal of Teaching in Physical Education” o qual apresentou várias perspectivas sobre o relatório do Cirurgião Geral de 1996 (USDHHS, 1996). Foi minha tentativa de expôr de forma otimista a história e o futuro do papel do profissional de Educação Física. Hoje, 10 anos depois, novamente me encontro no mesmo momento de reflexão, exceto por estar bem mais cauteloso em relação ao meu otimismo. Sim, mudança leva tempo porém, minha paciência está se esgotando.

Nos anos 70, havia um comercial do filtro de óleo FRAM no qual um mecânico segura um filtro barato e comenta sobre o quão caro seria o trabalho de reparação do motor. O slogan era “Pague-me agora ou pague-me depois”. Este slogan reflete as atitudes em relação à educação física e à atividade física. Nossa profissão oferece maneiras de se manter saudável, mas a sociedade parece se contentar em pagar caro por reparos no futuro. (Cone, 2004)

Hoje, eu ainda acredito que somos como o filtro de óleo, mas somos confrontados com um padrão e um sistema de recompensa que tornam cada vez mais difícil tornar-se a solução. Diretores e superintendentes são reconhecidos pelas notas, STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e resultados dos testes padrão realizados, não pela melhoria da saúde. Ao invés disso, é a profissão médica, os que reparam os danos, que ganham respeito. Pesquisas mostram que o público em geral acredita que educação física deveria ser parte da grade escolar. Porém, quando quem toma a decisão vê cursos que não oferecem experiências de qualidade na aréa de educação física, se pergunta se realmente somos algo que contribui para o bem-estar. E isso me leva a ponderar, “Os profissionais de educação física estão caminhando para a extinção?”

Minha frustração é baseada nos dados empíricos e anedóticos que indicam uma indisposição geral em nossa profissão. Sim, há alguns cursos de educação física de qualidade, mas eles claramente são a minoria. Infelizmente, a maioria fala pelo restante, e a imagem que eles transmitem não é amigável. Minha convicção é de que se essa tendência continuar, estaremos no caminho para a extinção. Professores de educação física serão substituídos por especialistas em atividade física que conduzem exercícios antes e depois da escola.

Estes especialistas não receberão salários de professores e não terão trabalho em tempo integral. Eles se tornarão a “industria de serviços” da educação. A contribuição beneficiará os estudantes, porém não serão todos que terão acesso ao que estará sendo oferecido. Educação física não será nem parte da grade escolar, nem parte do processo de educação. Isso soa mal? Da minha perspectiva, sim. Embora eu acredite que os especialistas em atividades físicas têm valor, eles simplesmente não são substitutos dos profissionais de educação física. Eles tem objetivos diferentes. Acredito que Educação Física é um componente essencial para uma educação de qualidade, mas para ganhar lugar na mesa de centro, precisamos estar dispostos a mudar. Aqui estão algumas sugestões que eu proponho considerarmos:

1 - Todos devem compreender o conceito de ensinar TODAS as crianças independente da capacidade e proporcioná-las habilidades e experiências necessárias para uma vida ativa e saudável. A estratégia de ensinar a “jogar bola” precisa acabar e sim, envolverá uma mudança na cultura tanto da perspectiva do professor como da do aluno. Me espanta (na verdade me confunde), quando professores de educação física conhecem uma classe, fazem a chamada, citam algumas regras, e logo depois rapidamente já iniciam jogos e torneios. Será que estes mesmos professores fazem isto com suas responsabilidades em treinamentos? Eles deixariam os jogadores treinando passe durante o treino inteiro? Eu duvido. Com certeza, eles gastariam tempo trabalhando nos fundamentos do esporte, no estudo das regras e das estratégias. Devíamos estar fazendo da mesma forma nas aulas de educação fisíca.

2 - Nossas avaliações devem ser baseadas no conhecimento demonstrado pelos alunos, pela performance e pela mudança de hábitos. Não podemos mais nos contentar com simplesmente avaliar se o estudante está ou não de uniforme, limita a participação dele nas aulas e geralmente o agrada! Frequentemente pergunto aos meus alunos se eles recebem notas boas na aula de matemática só pelo fato de estarem com o lápis e um sorriso no rosto. Você não pode me dizer que matemática é menos difícil que educação física, e ainda defendemos que nosso método de avaliação de reclamações de que “movimento” ou “atividades esportivas” são difíceis de aprender. A educação deveria estar tirando as pessoas de um nível raso, ou de início, para um nível de excelência. Isso pode e deve ser repensado.

3 - Professores de educação física precisam se tornar parte da cultura escolar. Mais especificamente, deveríamos abraçar as causas educacionais das nossas escolas como particicipantes e não reacionários. Acabamos nos isolando no ginásio anexo à escola ao invés de nos engajarmos com tudo que occore na escola. Temos tendência a reagir as mudanças que ocorrem (normalmente de forma negativa), ao invés de sermos proativos e ajudar a modelar a direção. Nossas opiniões não serão ouvidas se não fizermos parte da conversa por completo. Precisamos ser estrategicamente representados e não deixar nossos treinos e outras responsabilidades no caminho. É possível conciliar os treinos com as responsabilidades da escola. O ponto de partida é que precisamos estar presentes para sermos ouvidos.

4 - Vamos agir como educadores. Se não agirmos, por que devemos esperar que nossos colegas professores nos respeitem? Os objetivos de crescimento e de apredizado (SGO e SLO) são basicamente o que norteiam nosso panorama educacional. Por que é tão difícil de identificar metas para os estudantes ou resultados de aprendizado? Por que tantos professores preferem utilizar testes físicos para avaliação? Será porque somente coletamos este tipo de informação e está é a solução mais fácil para alcançar as expectativas em relação às avaliações? Todos estamos cientes dos comentários feitos a respeito do uso das notas de testes físicos para avaliar o aprendizado? Como comentei, precisarmos mudar a maneira de dar aulas e o que avaliamos para sermos reconhecidos pelos outros como educadores. Se não assumirmos o papel de professores, nosso futuro pode estar em simplesmente fornecer atividades supervisionadas antes e depois do horário de aula.

5 - Precisamos nos tornar indispensáveis na grade escolar. Já perdemos grandes oportunidades por nos isolarmos ao invés de fazer conecções com outras áreas. Educação física e saúde são as matérias mais interdisciplinares da grade. Temos muito a oferecer quando associados com outras matérias. Contudo, frequentemente falamos que o que é ensinado é o necessário para cobrir o conteúdo e que não temos tempo para qualquer ligação com outras áreas. Há uma oportunidade imensa para a educação física se destacar se somente aceitarmos o desafio de usar conteúdos inter ou transdisciplinares em nossas abordagens.

6 - O recente Commom Core State Standards (CCSS) é um exemplo primordial de como podemos contribuir para a aprendizagem do aluno. No CCSS, o foco está no pensamento crítico e na análise, e não há razão para não utilizarmos isto em nosso método de ensino. Mesmo quando nossos alunos envolvidos e na ativa, podemos procurar obter um aprendizado mais profudo. À medida que continuamos a reforçar tentativas bem sucedidas, vamos aos “Porquês”. “Por que você é bem sucedido?” ou “O que você pode fazer para concertar aquele erro?”. Isto não só melhorará a experiência de aprendizagem, mas irá equipar melhor nossos alunos com habilidades de pensamento e de análise essenciais para um futuro bem sucedido.

7 - Iremos focar novamente nossa grade para ir de encontro às necessidades dos alunos. Muito frequentemente a projetamos com o que gostamos de ensinar. Os tempos mudaram desde que fomos estudantes. Precisamos periodicamente repensar nossa missão, metas, e conteúdos. Para assim apresentarmos grades que nos dias de hoje são consideradas ricas tanto verticalmente quanto horizontalmente. Os conteúdos verticais são nossas matérias. Elas devem conter conteúdo benéfico para os estudantes no futuro. Os conteúdos horizontais incluem os temas e conceitos que se relacionam com as nossas matérias. Normalmente vão estar diretamente relacionados com as iniciativas da escola, reformas educacionais ou as metas anuais da escola. Se fizermos isto, a educação física se tornará parte integral da grade curricular da escola como um todo e um contribuidor indispensável para a educação de nossas crianças.

8 - Vou deixar o número 8 para você. Você pode inserir seu ponto de vista e desenvolver uma solução. Considere isto algo como as “resoluções de ano-novo” para nos ajudar a seguir em frente. Sinta-se à vontade para me mandar o que pensar por email!

Minha posição acerca do nosso futuro professional não é a otimista que eu tinha há dez anos. Cheguei à conclusão que tivemos tantos eventos de apoio que teriam nos ajudado a seguir em frente. Honestamente, não acho que mudamos muito, mas tenho esperança de que não perdemos completamente a oportunidade. Estou convencido de que se não mudarmos coletivamente a maneira de ensinar educação física, nossos papéis como profissionais de educação física nas escolas públicas serão mudados por nós. Nõs não teremos mais lugar na grade escolar. Nos tornaremos especialistas em atividade física oferecendo atividades antes e depois das aulas. Mesmo não sendo um papel ruim, será diferente. Hoje, temos conhecimento, habilidades e a postura para levar a educação física a um patamar elevado. Porém, precisamos mudar o que estamos fazendo no presente. Temos que analisar nosso interior e ativar as mudaças necessárias ou correr o risco de entrar em extinção.

Bibliografia

Cone, S. (2004). Pay me now or pay me later: Ten years later and have we seen any change? Journal of Teaching in Physical Education, 23, 271-280.

United States Department of Health and Human Services. (1996). Physical activity and health: A report of the Surgeon General. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention.


 


 

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