Resumo

A pesquisa buscou as compreensões de uma professora de Educação Física sobre os saberes cotidianos de seus alunos em relação à cultura corporal de movimento, procurando entender a forma como a docente lidava e acessava estes saberes no contexto das aulas para, com isso, chegar aos motivos da configuração de sua prática pedagógica. Optou-se por um estudo de cunho qualitativo de perspectiva etnográfica, ancorado nos pressupostos da 'descrição densa'. Foram observadas quarenta aulas no ensino fundamental, vinte delas realizadas com uma primeira série e a outra metade com uma segunda série. A pesquisa etnográfica foi desenvolvida durante três meses, entre abril e junho de 2007 em uma escola pública da Rede Estadual de São Paulo, na cidade de Campinas. Posteriormente à observação das aulas, foram realizadas duas entrevistas semi-estruturadas com a professora, ambas no próprio ambiente em que foi desenvolvida a pesquisa. A primeira buscou chegar às compreensões da professora sobre a especificidade da Educação Física, sobre os alunos, sobre as aulas e seus conteúdos e sobre os saberes cotidianos dos alunos. A segunda abordou o percurso biográfico da professora, vislumbrando traçar um breve perfil do seu processo de formação pessoal e profissional. Dentre os aspectos mais expressivos alcançados, destacou-se a compreensão da docente de que os saberes cotidianos dos alunos desencadeariam situações conflituosas, tendo, por isso, um caráter negativo ao contexto da aula. Agregados a esse entendimento, a ausência de planejamento, a falta de direcionamento pedagógico e a dificuldade de compreensão da especificidade da Educação Física na escola também se mostraram como fatores determinantes para o não acesso aos saberes cotidianos dos alunos. Apesar disso, os diferentes saberes, conceitos e entendimentos das crianças, ao longo das observações, foram constantemente revelados. A não apropriação dos saberes cotidianos mostrou-se um dos principais fatores influenciadores da resistência de um grupo de alunos à participação nas atividades propostas. Destacou-se também a compreensão da professora de que os diversos saberes gerariam relações desiguais por causa dos variados níveis de habilidades entre as crianças. Tal compreensão desmobilizava a professora no sentido de tentar práticas pedagógicas que problematizassem as situações conflituosas geradas nas brincadeiras e jogos por ela propostos, levando ao abandono de tais atividades no contexto das aulas. A partir da pesquisa, chegou-se à consideração de que o acesso aos saberes cotidianos, ancorados nas transgressões e comparações realizadas constantemente nas aulas pelos alunos, pode ser uma estratégia didático-pedagógica profícua para se transformar o contexto da aula de Educação Física, tornando-o mais atrativo e motivador de aprendizagens sobre as diferentes práticas corporais que compõem a cultura corporal de movimento.

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