Resumo

      

Integra

          Há uma euforia nacional entre os atletas e cartolas, agradecidos a Michel Temer por ter restituído ao esporte o dinheiro das loterias. Em princípio, nada mais justo. Mexeu em instituições estruturadas, com compromissos assumidos a saldar – salários, inclusive –, e comprometeu calendários de provas no exterior. Provocou uma desordem infernal no setor em poucas semanas.

               Há bom tempo, quando falta dinheiro para o esporte a lembrança é uma só: as loterias federais. Mas, as loterias estão esgotadas e é preciso urgentemente repensar sobre as fontes de recursos públicos para o esporte, se é que o alto rendimento continuará sob as rédeas do Estado no próximo governo. Da mesma forma, avaliar e redefinir programas do Ministério do Esporte, como a Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte, que mostram resultados inexpressivos para os fins que foram criados.

Num rápido balanço, conclui-se que não é mais possível continuar com medidas emergenciais, que mudam conforme a sensibilidade (ou falta de) do governo de plantão. Além disso, a histórica ausência de um ministro sem compromisso com o setor contribui para que as soluções de socorro se perpetuem. Esse erro provoca prejuízos técnicos e financeiros, pois é elementar a tese de que não se faz alto rendimento sem planejamento. E há 15 anos estamos nessa gangorra. Tivemos fartura de dinheiro, desperdício, até, mas faltou o elementar planejamento para a “pós-festa”. O que nos reserva o futuro?

Nos últimos anos, o Brasil esportivo recebeu todos os grandes eventos mundiais do esporte. Inclusive os Jogos Militares, Indígenas, Escolares, e o continental Pan-Americano. Construiu-se tudo o que foi possível. O esbanjamento foi notório. A corrupção também. No entanto, estamos perto de fechar a segunda década do Século XXI e ainda não temos a tal “política de esporte” discutida, aprovada, implantada. Uma “política” que decida o que compete ao Estado e o que compete aos órgãos privados da administração do esporte; que envolva o esporte com a educação, com a saúde, turismo, meio ambiente, indústria e comércio, porque não se pode ignorar a importância da produção do setor para a formação do P IB nacional. Enquanto não tivermos isso, continuaremos com as medidas emergenciais, e os desperdícios em decorrência. E essa prática já dura décadas...

Vem aí um novo governo. O que os candidatos projetam para o esporte social, educacional, paraolímpico etc? Alguém conhece? O Ministério do Esporte continuará sentdo reduto de partidos suspeitos de altíssima corrupção, em troca de votos de deputados e senadores? Teremos um ministro conhecedor do setor, seus problemas e necessidades ou virá mais um político inexpressivo, como os “Agnelos”, “Orlandos”, “Ricardos” e companhia que por lá passaram? O que diz a comunidade esportiva sobre essa ameaça? Está agindo para mudar o panorama?

               Um projeto de lei que atualiza a Lei Pelé está no Congresso Nacional. Parece-me uma temeridade votá-la antes de se definir o que é o esporte no contexto do governo e da sociedade brasileiras. Ter lei sem ter definições de competência e rumos no esporte é como ter patins sem rodinhas: continuaremos no mesmo lugar, só que com prejuízo enorme para os cofres públicos e, principalmente, para a comunidade jovem e desassistida de programas sérios e de longo prazos.