Resumo

O esporte, um dos fenômenos socioculturais mais importantes na contemporaneidade, está cada vez mais presente na vida das pessoas e alcança múltiplas dimensões das atividades humanas. No âmbito das políticas públicas, o Brasil possui um dos mais amplos programas de participação de jovens no esporte, além de estar realizando em uma mesma década alguns dos maiores eventos esportivos do mundo. A partir desse panorama e sob uma perspectiva ecológica, o principal objetivo desta pesquisa foi investigar os indicadores dos efeitos da experiência de jovens no esporte em um contexto de programa socioesportivo. O desenho teórico e metodológico fundamenta-se sobre os pressupostos do Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano (MBDH), e busca observar a experiência da participação de jovens no esporte no contexto do Programa Segundo Tempo (PST). Os dados foram coletados em cinco municípios brasileiros que desenvolvem o PST. Os municípios foram selecionados a partir do critério de maior tempo de convênio com o Ministério do Esporte. Os sujeitos da pesquisa são professore(a)s (n = 16) e alunos (n = 832), que frequentam o PST, e ex-aluno(a)s (n = 11). O critério para escolha do(a)s professore(a)s foi o tempo no PST. O(a)s professore(a)s também indicaram ex-aluno(a)s. Professore(a)s e ex-aluno(a)s foram entrevistado(a)s com temas relacionados à experiência positiva no esporte e os efeitos de competência percebida. Para observar a experiência do(a)s alunos no esporte e o processo de desenvolvimento, foram utilizados três instrumentos psicométricos: a Escala de Autoeficácia Geral, o Questionário da Experiência de Jovens no Esporte (YES-S) e o Perfil dos Ativos de Desenvolvimento. Foram analisados dados documentais do PST (duração, situação e número de convênios por região) e do Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM). A análise de regressão multinível foi utilizada para explorar a associação entre variáveis de percepção, contexto e tempo de participação no PST. As experiências positivas no esporte foram percebidas em relação à atividade e às relações interpessoais com os pares e professore(a)s. Os efeitos de competência percebida e demonstrada foram para as relações interpessoais e autorregulação do comportamento. Houve influência positiva e significativa da autoeficácia percebida sobre a experiência positiva do(a)s jovens no esporte, que foi reforçada pelo tempo de participação no programa. O alcance e a qualidade do apoio aparecem como preditores para o tempo de participação no PST. Os municípios com maior IDHM conseguem ter mais acesso e manter o PST por mais tempo, o que é contraditório em relação aos objetivos do programa. O tempo de participação no programa e o IDHM foram variáveis essenciais para explicar a experiência de desenvolvimento proporcionada pelo esporte. Ficou evidenciado que a participação no esporte só tem efeito se ela tiver continuidade, ou seja, se ela durar no tempo. Nesse sentido, claramente, só é possível se, politicamente, existir a decisão de disponibilizar recursos financeiros, técnicos e humanos, considerando características locais e fatores macroestruturais. Por fim, na ótica da Pedagogia do Esporte, a organização dos processos orientados para a participação deverá promover uma prática esportiva de qualidade, para que os efeitos da experiência possam alcançar outros domínios da vida e possam ser ampliadas as possibilidades do(a)s jovens para conviver com o esporte

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