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INTRODUÇÃO:

Desde seu surgimento, em 1979, o Programa de Educação Tutorial - então Programa Especial de Treinamento (PET) - vive envolto em contraditória siuação: revela-se um excelente programa de formação diferenciada para estudantes de graduação e, por isso mesmo, é criticado! Avaliações externas feitas a pedido do MEC quando este pretendia encerrar o PET concluiram que se tratava da melhor iniciativa brasileira no âmbito da graduação e o mais efetivo programa desenvolvido então pela CAPES. Essa condição decorria do fato de ser um programa permanente, de longo prazo e permanência, balizado por critérios de qualidade, integrando o ensino à pesquisa e à extensão no âmbito da graduação. As condições especiais necessárias ao seu funcionamento, todavia, eram (e ainda são!) vistas com desconfiança pela comunidade acadêmica, tanto por professores quanto por acadêmicos não-bolsistas, sob a acusação de discriminação e elitismo. No decorrer dessa trajetória, a partir de novo capítulo representado pela passagem do PET para a SESu, surgiu a iniciativa de se examinar que diferencial de formação acadêmica e pessoal é produzido, efetivamente, pela experiência petiana. Neste sentido, associado à comemoração da passagem dos seus dez anos de criação, o PET Educação Física/UFSC resolveu conhecer a opinião dos seus ex-bolsistas, desenvolvendo projeto de pesquisa coletiva que tem ainda o objetivo de criar um banco dados de todos aqueles que, ao longo destes dez anos, fizeram/fazem sua parte nesta história.


 METODOLOGIA:

O estudo pode ser caracterizado como uma pesquisa de enfoque exploratório e descritivo, tendo como objetivo tentar compreender, por meio dos depoimentos de egressos do Programa, se e como a experiência de ter sido bolsista PET pode ter contribuido para um melhor aproveitamento das oportunidades curriculares e extra-curriculares de formação no âmbito da graduação, e que consequências pessoais e profissionais podem ser atribuídas a esta participação. As informações foram recolhidas por meio de um questionário com dez questões abertas e fechadas, distribuídas em quatro seções previamente estabelecidas: formação acadêmica, atuação profissional, formação cultural e considerações gerais. O questionário foi enviado por e-mail aos 34 ex-bolsistas que passaram pelo Grupo no período de 1995 a 2004, com retorno de 50% (amostra=17). Com este recorte, nenhum bolsista no ano de 2005, coautor da pesquisa, foi também seu sujeito. Uma tarefa anterior foi a de identificar e localizar todos os ex-bolsistas, para organizar um banco de dados com informações a seu respeito, seguido então da aplicação do questionário. A seguir, os depoimentos foram lidos e distribuídos em categorias, por meio da estratégia de análise de conteúdo, evidenciando as unidades de registro e de contexto. As respostas, agrupadas nas categorias, foram então analisadas e discutidas, à luz de argumentos conceituais sobre as possibilidades de formação ampliada do ensino de graduação, e da função sociocultural da universidade.

RESULTADOS:

Do conjunto das respostas, destacam-se seis categorias de análise. A categoria "ampliação da visão da área e de perspectivas/inserção profissional" expressa uma nova visão sobre o Curso e as possibilidades de intervenção do professor de Educação Física. A categoria "visão diferenciada por parte dos colegas e professores" decorre das cobranças por parte dos colegas e, ainda mais, pelos professores, a partir do ingresso no PET. A categoria "desenvolvimento e articulação com o ambiente acadêmico" diz respeito a contribuições positivas e negativas da experiência PET na formação da visão política, entendendo a Educação Física no contexto das áreas de conhecimento, no interior da universidade e desta no conjunto da sociedade. O "aprendizado da convivência e do trabalho em grupo" é a categoria relacionada ao significado dado pelos petianos às relações sociais, às amizades conquistadas no grupo, assim como um destaque ao aprendizado advindo da convivência. A categoria "bolsas de estudo" revela a importância da bolsa do programa, que permitia aos petianos dedicarem-se integralmente ao curso. Como a mais referida, destacamos a categoria "formação", subdividida em especifica e ampliada, ambas beneficiadas pela experiência petiana. A primeira subcategoria abrange os conhecimentos identificadores da Educação Física e contempla as dimensões Culturais do movimento humano, Técnico-instrumental e Didático. A segunda integra a dimensão de valores sobre cultura, ética, ser humano e sociedade.


CONCLUSÕES:

Com base nas respostas advindas dos questionários, torna-se ainda mais perceptível o diferencial de formação acadêmica e pessoal proporcionado pela experiência petiana. As categorias de análise da pesquisa emergiram, evidentemente, dos dados coletados junto aos ex-bolsistas; significa dizer que estes reconhecem e concebem como legítima a formação à qual tiveram acesso devido, não unicamente, mas em grande parte, ao PET. Trata-se de uma formação que, embora devesse ser estendida a todo ensino de graduação, é, de fato, diferenciada; afinal, a passagem pelo PET foi o que permitiu, segundo se observa nos dados, maior visualização da área de atuação, assim como uma compreensão ampliada e crítica, de algum modo, do ambiente acadêmico, incluindo o aprendizado de relações interpessoais, como pontos a serem destacados. Para além disso, faz-se necessário observar que o programa é também alvo de críticas, que acabam por desencadear reflexões acerca das razões das mesmas, como atesta este trabalho, sob a forma de autocrítica. Assim, o presente trabalho evidencia que, mesmo não estando o PET à espera de reconhecimento irrestrito, ele possui seus méritos e, indubitavelmente, vem acrescentar à formação dos que por ele passam. Em outras palavras, entende-se que a educação tutorial pode se constituir numa alternativa comprovada, ainda que não a única, para a melhoria do ensino e da formação cultural e política, no âmbito da graduação.