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O tema de nosso podcast desta semana se traduz por uma pergunta: “A Escola pode ser um Ambiente de Lazer?”

Aprendi muitas coisas trabalhando no setor público, especialmente na prefeitura de Sorocaba, durante 13 anos, de forma descontinuada, num período de 32 anos com cinco prefeitos diferentes. Para citar apenas duas dessas aprendizagens, uma delas, sempre que posso, defendo arduamente a pessoa do funcionário público, cuja maioria é altamente capaz e comprometida, sendo injustiçados devido o descaso de poucos. Outro destaque vai para guardar cópia de absolutamente tudo que fazemos, em termos de registros e documentos. Infelizmente, na maioria das trocas de dirigentes, boa parte do que foi construído, é jogado fora.

Faço essa observação preliminar devido ao desafio apresentado pela nossa querida professora Tereza França, que fez seu mestrado conosco na Unicamp e depois seu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e hoje professora da Universidade Federal de Pernambuco. Militante no campo do lazer, mandou um carinhoso áudio após ouvir um dos nossos podcast, propondo o tema de hoje com a seguinte pergunta: é possível pensar a escola como um espaço também de lazer, não obstante seu reconhecimento como um ambiente “da obrigação”? Por exemplo, seu uso em finais de semana, à noite, nos intervalos entre as aulas, no chamado recreio, isso é possível?

Tento agora unir a primeira fala deste podcast com a segunda para dar a minha resposta: tenho as minhas dúvidas, minha cara Tereza.

Quando fui secretário de Educação e Cultura da prefeitura de Sorocaba na década de 90, eu tinha essa visão integradora de espaços, buscando estreitar a educação formal com a educação não formal através da cultura e dos parques públicos que, na ocasião, estavam em uma só secretaria. Foi uma das experiências mais ricas de toda minha vida profissional.

Trabalhamos fortemente para fortalecer a “disciplinaridade” das áreas, para então explorar a riqueza do trabalho transversal na busca da interdisciplinaridade.

Nesse sentido, fui buscar o relatório final de dois anos de trabalho - veja aqui a importância de se guardar documentos - e encontrei lá experiências maravilhosas, fazendo da capilaridade do sistema escolar municipal, um espaço privilegiado para difundir novos saberes, especialmente aqueles fora da “cela de aula” e da “grade curricular”, que tanto aprisionam nossas escolas, como diz nosso amigo Laércio Elias Pereira, mencionado em podcast anterior.

A base do Dia Mundial do Desafio, por exemplo, que estimula a prática da atividades físicas na comunidade, era a escola, assim como o fomento às fanfarras, a porta de entrada para muitos jovens que se identificaram, mais tarde, com a música.

O projeto “Cultura vai à Escola” levou a esses ambientes de educação formal, cursos e vivências em teatro, pintura, dança, circo, fotografia, xadrez, música, poesia, para mais de dois mil estudantes da rede.

Outro projeto que merece destaque foi “A Escola Abre as Suas Portas e os Seus Corações”. Pode ser um nome, digamos, meio brega para atualidade, mas nos anos 90 fizeram o maior sucesso. Tratava-se de uma iniciativa de abertura das escolas municipais aos finais de semana para que a comunidade se apropriasse daquele espaço público, realizando inúmeras experiências lúdicas. Entre tantos resultados positivos para a comunidade, nesse período observou-se uma redução expressiva nas ocorrências de vandalismo as escolas. A realidade é uma só: aquilo que é meu, eu ajudo a cuidar.

Desenvolvemos muitos projetos que, infelizmente, foram descontinuados por administrações posteriores, como acontece neste país, na maioria das vezes. Lamentavelmente ainda se trabalha com a concepção de executar “planos de governo” em detrimento das “políticas públicas de estado” mais duradouras.

Portanto, é sim possível ampliar o repertório cultural dos jovens no ambiente escolar, desde que se dê o mesmo valor das disciplinas escolares tradicionais às vivências de experiências de lazer mais diversificadas.

No entanto, minha cara Professora Tereza, dentro da escola, continua sendo como “azeite e vinagre”: embora possam dar um tempero gostoso, é muito difícil de se juntarem para promover o desenvolvimento harmônico da pessoa humana.

Voltarei a esse assunto outras vezes para falar mais desse apaixonante tema “lazer e educação”, não necessariamente dentro da escola.

Eu sou Professor Bramante e espero reencontrá-los na semana que vem com mais um podcast.

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