Resumo

A participação do Brasil na Copa do Mundo de 1954, sediada na Suíça, ocorreu entre dois marcos do futebol nacional: a derrota no ano de 1950 (Brasil) e a primeira vitória do selecionado em 1958 (Suécia). Diferentemente da repercussão das eliminações ocorridas em 1938 e 1950, o insucesso da seleção brasileira na Suíça foi marcado por um silenciamento e, por conseguinte, posterior esquecimento. Por este motivo, ao pesquisar o “estado da arte” sobre o assunto, é possível perceber que ainda hoje são poucas as publicações acadêmicas e literárias que tratam especificamente da participação do Brasil neste evento esportivo. Acredita-se que um dos agentes que contribuiu na organização desta memória negligente à Copa de 1954 foi o periódico carioca Jornal dos Sports (JS). Meio de comunicação de grande capital no campo esportivo, os sentidos construídos pelo JS extrapolaram o tempo e o espaço de sua organização discursiva, constituindo memórias que vêm sendo herdadas de geração em geração. Diante disto, é possível aferir que a sua ação foi dupla, pois ao mesmo tempo em que mediava o acontecimento e a história, contribuía para o esquecimento, a partir dos processos de seleção do que deveria ou não ser noticiado e principalmente pela abordagem narrativa adotada. Assim, o sentido em analisar as crônicas do Jornal dos Sports acerca da participação do Brasil na Copa do Mundo de 1954 é o de entender a intersecção entre o contexto político brasileiro, os meios de comunicação impressos e o futebol, observando como se deu discursivamente o esquecimento deste evento. O recorte das fontes documentais teve caráter temático e cronológico, sendo consideradas para a análise de conteúdo temática somente as crônicas que tratavam especificamente da Seleção Brasileira de Futebol no período de preparação e participação neste mundial. Com esta investigação contextual torna-se possível compreender que a relevância dada para determinado insucesso do Brasil na Copa do Mundo em detrimento de outros tem relação com a apropriação do contexto político pelos meios de comunicação e a forma como as narrativas publicadas colaboraram à formação de uma memória atrelando identidade brasileira e futebol.