Resumo

Apesar do recorrente e infantil discurso nas mídias (rádio, TV, redes sociais, jornais etc.) que política, religião e esporte não se misturam, ou pior, não devem ser misturados, a realidade mostra o contrário, afinal, jogadores fazem preces antes do início de vários tipos de disputas esportivas; alguns se prostam ajoelhados e com as mãos apontadas para o alto agradecendo o seu Deus por uma vitória de seu time; vários deles tatuam seus corpos com símbolos religiosos e outros tantos, usam adereços de puro ouro dependurados no pescoço e até nas orelhas. Torcedores são flagrados nas arquibancadas com as mãos em posição de prece no instante daquele momento decisivo da partida. As evidências empíricas de que religião e esporte estão profundamente misturados é inquestionável. Por sua vez, a ligação entre política e esporte é mais forte, em qualquer campeonato mundial de qualquer esporte, toca-se o hino nacional da nação que ganhou o primeiro lugar, ali, os atletas-guerreiros representam a sua nação e os valores políticos, morais e sociais dela. Esportistas campeões mundiais de várias modalidades esportivas são tratados como deuses em seus países, legítimos representantes da guerra entre nações mimetizada pelos esportes.  Não, não se trata de um discurso bélico dos esportes, a questão parece ter raízes muito mais profundas, trata-se também de uma suposta hegemonia que uma nação pensa ter em relação a outros países, numa aflita tentativa em deixar claro o recado: nós somos os melhores do mundo e o mundo se espelha em nosso país. Portanto, a negação de que esporte, política e religião não se misturam, configura um discurso que aponta para uma visão de mundo fragmentada, potencialmente manipuladora, que parte do pressuposto da existência de uma estupidez que, talvez, a maioria das pessoas no mundo não tenha. A apologia deste suposto analfabetismo político e teológico, não combina em nada com um mundo hiper conectado, mas também, claramente polarizado, com nações e sociedades de matrizes religiosas que vão da cristandade, passando pelo judaísmo e islamismo, até os hinduístas, budistas, xintoístas, e várias outras, não hegemônicas, mas também igualmente importantes. Na política, nações ditas democráticas, as sociais-democracias, os regimes totalitários e os populistas, todas, sem exceção, ufanistas de seu sucesso e escravas do capitalismo financeiro, mediático e informacional. A falácia do esporte desvinculado da política e religião é tão ingênuo, ou maldoso, quanto supor que beber leite com manga pode matar. Neste modesto exercício de livre-pensar, será realizada uma possível, mas não universal, reflexão sobre os espetáculos esportivos que consumimos, temperados com política e religião.

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