Editora Gênese. Brasil 2009. 125 páginas.

Sobre

APRESENTAÇÃO

Políticas de lazer e de saúde em espaços urbanos é um livro fruto de projeto de pesquisa desenvolvido pelo Núcleo UFRGS da Rede Cedes e financiado pelo Ministério do Esporte. Ele representa a consolidação da trajetória de pesquisas iniciadas pelo núcleo em 2005, que culminou com a publicação pela editora da UFRGS, em 2007, dos livros Educação física e saúde coletiva: políticas de formação e perspectivas de intervenção, organizado por Alex Branco Fraga e Felipe Wachs; Garimpando memórias: esporte, educação física, lazer e dança, organizado por Silvana Goellner e Angelita Jaeger; e O esporte na cidade: estudos etnográficos sobre sociabilidades esportivas em espaços urbanos, organizado por Marco Paulo Stigger, Fernando González e Raquel Silveira.

Essas três obras reuniram pesquisas articuladas teórica e metodologicamente ao campo das representações sociais, etnografia, historiografia cultural e análise de discurso, que deram sustentação às análises sobre fenômenos contemporâneos do esporte recreativo e do lazer na cidade, a recuperação e a documentação da memória das práticas esportivas regionais, bem como as crenças circulantes em programas de promoção da saúde acerca dos benefícios da prática física e sua repercussão na cultura do movimento humano.

O presente livro é um desdobramento do trabalho em rede que Núcleo UFRGS da Rede Cedes vem fazendo. Para compô-lo, adotamos a mesma lógica da primeira coleção: textos oriundos do projeto coletivo desenvolvido por pesquisadores da Escola de Educação Física da UFRGS (os quatro primeiros), e textos produzidos por pesquisadores de fora do núcleo, cujos temas estão, contudo, intimamente ligados ao projeto nuclear (os cinco últimos).

No capítulo Parque Humaitá: a emergência das práticas corporais e esportivas, Janice Zarpellon Mazo, Francine Morim Menegotto e Ronaldo Dreissig de Moraes realizam um registro histórico da constituição desse parque, situado na Zona Norte de Porto Alegre. O objetivo principal do estudo é analisar como a população local se apropriou dos espaços públicos destinados às práticas esportivas e corporais. Para tanto foram utilizadas fontes documentais e entrevistas com frequentadores e com gestores do parque.

No capítulo “Sedentarismo é...”: concepções de praticantes de caminhada e medicalização das práticas corporais, Alex Branco Fraga, Felipe Wachs, Ivana dos Santos Teixeira, Rute Viégas Nunes e Igor Ghelman Sordi Zibenberg analisaram as respostas de vinte praticantes de caminhada do Parque Humaitá, todos vinculados ao programa Lazer e Saúde. O foco central da pesquisa é compreender o que entendem por sedentarismo e como o relacionam com o processo de medicalização das práticas corporais presente nas recomendações referentes à atividade física e à saúde.

Partindo de evidências que levam a considerar que os parques públicos adquiriram grande relevância social, como espaços de lazer e de relações de sociabilidade urbana, Marco Paulo Stigger, Edson Bertuol Trentini e Maitê Venuto de Freitas apresentam o artigo Parques públicos, sociabilidades urbanas e políticas de lazer. No trabalho, os autores buscam compreender – em dois espaços públicos de Porto Alegre – aspectos relativos a fatores que  interferem ou podem vir a interferir na construção das dinâmicas sociais que neles acontecem. Depois de um período de observações in loco e de realização de um conjunto de entrevistas semiestruturadas, concluem que diferentes dimensões históricas e sociais locais são determinantes na forma como os espaços públicos são apropriados pelas populações do seu entorno. Sugerem, ainda, que os gestores de políticas públicas de lazer devem estar atentos a essas peculiaridades.

Em Lazer e Gênero: considerações iniciais a partir da experiência do Programa Esporte e Lazer na Cidade, as autoras Silvana Vilodre Goellner, Márcia Luiza Machado Figueira, Carolina de Campos Derós e Caroline Canabarro de Oliveira realizam uma análise junto às atividades do Programa Esporte e Lazer da Cidade ocorridas nos cinco núcleos da cidade de Porto Alegre. A pesquisa buscou compreender alguns dos impeditivos para a menor adesão das mulheres à pratica de atividades de esporte e de lazer, partindo do pressuposto de que o lazer, assim como qualquer outra prática humana, é um espaço generificado e generificador.

Fabio de Farias Peres e Victor Andrade de Melo, no artigo intitulado Lazer, promoção da saúde e espaços públicos: encontros e desencontros apresentam algumas reflexões sobre os usos do campo da promoção da saúde em associação ao que se entende, mesmo que de forma equivocada, por lazer. Os autores se propõem a situar a discussão do acesso aos espaços como um dos componentes que compõe a relação saúde-lazer.

Já no texto Planejamento dos espaços e equipamentos de lazer nas cidades: uma questão de saúde urbana, Simone Rechia faz uma reflexão sobre a conexão entre o planejamento dos espaços e os equipamentos de esporte e de lazer e a saúde nos grandes centros urbanos. A autora enfatiza que o planejamento e a variabilidade dos modelos de espaços e de equipamentos associados a programas eficazes devem nortear a gestão dos espaços públicos.

No capítulo O esporte nos projetos sociais e a produção dos sujeitos vulneráveis, Luiz Felipe Alcântara Hecktheuer, Méri Rosane Santos da Silva, Rose Méri Santos da Silva dedicam-se a discutir o conceito de vulnerabilidade e vulnerabilidade social tomando como ponto de convergência analítica projetos sociais de esporte e de lazer. O argumento central gira em torno da situação paradoxal que se estabelece na relação entre práticas dirigidas aos vulneráveis (fundadas na vulnerabilidade) e a constituição de corpos vulneráveis (vulnerabilização) que tais práticas podem produzir.

Édison Luis Gastaldo é o autor do capítulo Interações Sociais no Espaço Público: um estudo etnográfico em praças e em parques. Ele apresenta alguns resultados da pesquisa “Espaços Esportivos de Lazer e Sociabilidade Cotidiana: um estudo etnográfico”, que buscou, mediante a participação sistemática de um grupo de pesquisadores na vida cotidiana de duas dezenas de praças e parques, investigar as práticas esportivas e de lazer ali ocorrentes. Ao salientar alguns aspectos da ordem social estabelecida nas praças observadas, o autor conclui que, quando as pessoas ocupam o espaço público que lhes foi concedido, o conflito entre os participantes diminui; e, se houver também uma política para fomentar e ocupar aquele espaço público, as interações se tornam ainda mais qualificadas como relações humanas.

A participação de José Geraldo Soares Damico com o artigo Heterotopias Urbanas: a cidade e a praça, mostra a realidade dos espaços públicos de lazer em grandes cidades e levanta um questionamento: qual a relação dos moradores urbanos frente à promoção de saúde e/ou lazer? Na descrição densa de seu trabalho, o autor apresenta a variação nas funções, nas formas e nas paisagens de uma praça no bairro Mathias Velho pelo olhar das relações complexas que se estabelecem nesta localidade na cidade de Canoas.

A diversidade de abordagens e de contextos empíricos contemplada nesta obra é uma demonstração da força das pesquisas relativas às “Políticas de lazer e de saúde em espaços urbanos” no Brasil. São diferentes linhas investigativas que formam o fio condutor de uma rede de pesquisas multifacetada, mas com preocupações e compromissos comuns. Agradecemos ao Ministério do Esporte e à Escola de Educação Física da UFRGS pelo apoio permanente concedido às pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo UFRGS da Rede Cedes e, fundamentalmente, pela possibilidade de manterem-nos conectados.

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