Editora FACED-UFBA-Grupo Corpo. Brasil 2019. 98 páginas.

Sobre

APRESENTAÇÃO

Uma das marcas mais relevantes da consolidação recente dos Estudos do Esporte – especialmente do campo acadêmico da História das Práticas Corporais, mais usualmente conhecido como História do Esporte, da Educação Física e do Lazer – é o espraiamento dos debates e das iniciativas para outras regiões do país que não as Sudeste e Sul, onde inicialmente as experiências de investigação melhor se estruturaram. Há que se saudar enfaticamente tal ocorrência.

O novo conjunto de reflexões decorrente dessas iniciativas tem arejado significativamente as compreensões sobre os objetos investigados. Chama a atenção para os riscos do etnocentrismo e nos convoca a perceber a plasticidade e complexidade dos fenômenos sociais sobre os quais nos debruçamos. Ajuda-nos a perceber seus caminhos múltiplos, alertando-nos para suas regularidades e peculiaridades. Nenhum entendimento mais ambicioso pode prescindir desses novos olhares.

As iniciativas do grupo Corpo da Universidade Federal da Bahia, coordenado pelo amigo e irmão Coriolano Pereira da Rocha Junior, são um perfeito exemplo desse novo e alvissareiro momento. Seus pesquisadores, muitos deles autores de contribuições nesse livro publicadas, têm trabalhado em sintonia com os debates nacionais e internacionais, articulando-os com seus olhares sobre as ocorrências da Bahia, demonstrando não somente a importância dos seus diversos objetos para o cenário local, como também percebendo suas peculiaridades, interpretadas à luz de um contexto específico, conectando de tal forma o chamado regional com quadros maiores do ponto de vista geopolítico que podemos até mesmo questionar o quanto são válidas essas classificações.

A Bahia é o mundo e o Brasil sem deixar de ser a Bahia; o Brasil e o mundo estão na Bahia, relidos de forma peculiar. Não se trata de ver somente o reflexo, mas também o refratário. É sempre na tensão entre captar aquilo que reflete e aquilo que se apresenta difuso que está o desafio dos investigadores, esforço muito bem empreendido pelos colegas que se reúnem em torno do grupo Corpo.

Há que se destacar a importância da Bahia no cenário nacional. Tendo sido local da primeira capital das terras da América portuguesa, a perda dessa condição para o Rio de Janeiro ocasionou impactos significativos, inclusive no que tange ao 7 | P á g i n a futuro processo de adesão ao ideário e imaginário da modernidade. Seus movimentos específicos de vinculação a ideias de civilização e progresso carregam o potencial de nos permitir perceber os diferentes tempos de desenvolvimento das urbes no Brasil, bem como as tensões que nesse processo se estabeleceram, e ainda se estabelecem, entre o campo e a cidade, entre o antigo e o novo, entre a tradição e a inovação.

Compreender essas peculiaridades é sem sombra de dúvidas entender melhor o Brasil e o mundo, em nosso caso tendo como portas de entrada as práticas corporais institucionalizadas e de entretenimento. As ações do grupo Corpo são, assim, fundamentais para nos permitir essa compreensão. Devem ser saudadas. Vida longa e alvíssaras a esse incrível coletivo de colegas!

Victor Melo

Inverno de 2018 Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro

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