Resumo

As práticas corporais integrativas podem ser entendidas como propostas de toques/manipulações, movimentos e posições corporais que têm como característica central o convite ao autoconhecimento, à sensibilização e à introspecção, como, por exemplo, yoga, tai chi chuan, bioenergética, eutonia, etc. 
No campo da saúde, estas práticas tem ganhado visibilidade com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, a qual incentiva o uso de recursos terapêuticos diferentes da biomedicina ocidental na abordagem dos processos saúde-doença, incluindo práticas em saúde que extrapolam o olhar biologicista, medicamentoso e curativo, estabelecem relação com a natureza e consideram o sujeito em sua totalidade a partir de uma visão holística. 
As práticas corporais integrativas não são de domínio exclusivo de nenhuma profissão e as políticas públicas admitem que diferentes profissionais atuem com elas no SUS, inclusive a Educação Física. Estas vêm sendo ofertadas nos serviços de saúde em razão de seu potencial terapêutico, mas seu desenvolvimento e ampliação do acesso demanda investimento, realização de pesquisas científicas, além do enfrentamento de uma série de tensões que estabelecem com a medicina hegemônica. 
Esta pesquisa teve como objeto de estudo as ações com práticas corporais integrativas desenvolvidas por professores/as de Educação Física em unidades públicas de saúde da cidade de Goiânia/GO, buscando identificar quais são as práticas abordadas, em quais unidades de saúde estão presentes e com quais objetivos e formatos os professores/as têm organizado o trabalho. 
Para isso, observou-se no ano de 2015 o mapeamento das unidades públicas de saúde de Goiânia/GO onde estão lotados professores/as de Educação Física e foram identificados 30 profissionais. Realizou-se contato telefônico com as unidades para identificar quais professores/as desenvolveram atividades com práticas corporais integrativas. O passo seguinte foi visitar as unidades e realizar uma entrevista semi-estruturada com o/a professor/a de Educação Física que abordou tais práticas. 
Os resultados indicaram que seis professores/as trabalharam com as seguintes práticas corporais integrativas no SUS de Goiânia/GO: yoga, relaxamento, respiração, massagem, tai chi chuan e meditação. Os locais de inserção destas práticas foram um Centro de Referência de Atenção a Saúde da Pessoa Idosa e quatro Centros de Atenção Psicossocial para atendimento de pessoas com transtorno mental ou em situação de abuso de álcool e outras drogas. 
Os objetivos das ações mencionados pelos profissionais foram: ajudar no tratamento de depressão dos idosos e benefícios sócio afetivos e físicos; melhorar o bem-estar; desenvolver o relaxamento do tônus muscular, o equilíbrio, a autoestima, a oxigenação no cérebro; diminuir a ansiedade; aumentar o autocontrole, a atenção, a concentração; promover uma conexão entre corpo e mente; eliminar as tensões; melhorar o sono e a circulação sanguínea. 
Os profissionais afirmaram fazer uso destas práticas em virtude de tais contribuições que mencionam haver para a saúde dos usuários. Observou-se que estas intenções se colocam no plano físico e emocional dos sujeitos e que variam conforme a função social e o perfil dos usuários de cada espaço.
As atividades foram organizadas de diferentes maneiras pelos/as professores/as: alguns apostaram na experiência corporal com as práticas e alguns incluíram momentos de diálogo e reflexão sobre as vivências. Alguns fizeram uso de materiais didáticos (textos e vídeos) ou materiais de auxílio (músicas e colchonetes). 
Houve profissionais que dedicaram uma oficina específica para as práticas corporais integrativas, com durações variadas, e outros que dedicaram apenas um momento da oficina (início ou final), objetivando melhorar as condições do grupo para conduzir outra atividade. Viu-se que todos os professores/as realizavam as atividades com a presença de profissionais de outras áreas. 
Com relação à formação para atuar com práticas corporais integrativas, dois professores mencionaram ter realizado cursos específicos, um aprendeu no convívio com outros profissionais e os demais se apropriaram dos elementos da Educação Física para basear as ações. Eles/as reconheceram que sua formação inicial foi insuficiente com relação a estes temas, sendo que alguns tiveram pouco contato com estas práticas na graduação e outros disseram não ter tido nenhuma oportunidade. 
Os dados mostraram que, embora as práticas corporais integrativas não venham sendo contempladas nos cursos de formação em Educação Física, alguns professores/as tem desenvolvido estas práticas no SUS, na saúde mental e com idosos, em virtude de contribuições físicas e emocionais que evidenciam para a saúde dos usuários.

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