Resumo

Curitiba possui reconhecimento nacional e até mundial de ser uma cidade planejada, destacando-se a sua relação com a preservação ambiental. Nesse sentido, foi criado, a partir do século XX, uma grande quantidade de parques urbanos que surgiram, inicialmente, para conter os avanços demográficos, a preservação de fundos de vale, de matas ciliares e ribeirinhas e de nascentes de rio, numa alusão a “dar água à cidade” controlando as enchentes que ocorriam na cidade.Esse trabalho apresenta os processos contraditórios desse processo, bem como o fato de que, a partir de tais constatações, se abriram novas possibilidades de apropriações significativas no tempo/espaço de lazer da população local, tornando os parques públicos da cidade verdadeiras “praias” dos curitibanos. Nesse sentido, escolheu-se o parque Barigui, um dos mais antigos e freqüentados da cidade, como objeto de estudo com o objetivo de reconhecer quais os significados contemporâneos das práticas corporais realizadas nesse espaço. A pesquisa é de cunho qualitativo com uma abordagem etnográfica inspirada em Geertz (1989) desenvolvida através de “descrição densa” do cotidiano do parque seguindo como referencial o modelo de análise cultural. Para tanto, foram realizadas observações sistemáticas do cotidiano do parque, bem como foram selecionados e entrevistados alguns atores sociais. Tal processo veio complementar a revisão de literatura que, além do levantamento sobre o planejamento urbano de Curitiba, buscou localizar historicamente os significados atribuídos às práticas corporais, à relação dessas com o tempo/espaço de lazer, com o ambiente natural e com a saúde de seus praticantes, e ainda, os programas de políticas públicas de incentivo à pratica de atividade física populacional. Os resultados desse trabalho mostram relações significativas de proximidade geográfica dos usuários do parque e, embora o Barigui seja berço de uma variedade enorme de vivências materializadas no tempo/espaço de lazer, as principais práticas corporais observadas no local foram, respectivamente, a caminhada e a corrida, sendo aquela praticada em maior número por mulheres e esta por homens. Em síntese, os principais signos atribuídos a essas vivências possuem uma relação direta com a saúde de seus praticantes. Além disso, a sociabilização promovida pelos encontros durante as práticas foi entendida como positiva por todos os usuários entrevistados. O contato com a natureza foi tido como importante para muitos usuários, todavia, os “atletas amadores” que treinam no parque possuem uma visão reducionista do local, onde a natureza local passa a ser percebida apenas como “pano de fundo” de suas práticas. Para esse grupo, além da menor sensibilidade como o meio, há uma maior preocupação com as manifestações fisiológicas do exercício físico e a busca da promoção da saúde através de uma melhor aptidão física, refletindo uma cultura biologicista histórica das práticas corporais no Brasil. Por fim, acredita-se que tais descobertas poderão auxiliar a área de Educação Física, bem como as ações de políticas públicas, para atenderem às reais necessidades do sujeito em sua totalidade. Poderão, ainda, auxiliar os programas fundamentados na ocupação do tempo/espaço de lazer da população, na medida em que estes levem em consideração a conquista histórica dos trabalhadores pelo seu tempo disponível e que respeitem o caráter de liberdade do lazer, sendo os parques considerados como um lugar de organização da cultura. .

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