Resumo

O Fluxo, apresentado em 1970 por Mihaly Csikszentmihalyi, é compreendido como um processo psicológico subjacente ao nível ótimo de desempenho que mostra como os indivíduos lidam com situações que exigem equilíbrio entre ocasiões desafiadoras e suas habilidades psicológicas de enfrentamento. Por essas características e, por se relacionar com o alto rendimento, tornou-se um conceito importante a ser estudado no meio esportivo. Com o objetivo de investigar a predisposição ao fluxo em atletas da Seleção Brasileira de Rugby, essa pesquisa foi dividida em dois estudos. O Estudo 1 avaliou como os atletas das equipes juvenil e adulta percebem o fluxo a partir de fatores presentes em uma escala e relacionou a predisposição ao fluxo a idade e ao tempo de prática no esporte. A amostra foi composta por 54 atletas do sexo masculino, com idades entre 16 e 31 anos. Os atletas foram avaliados através da Escala de Predisposição ao Fluxo (EPF) e para a análise estatística foi utilizado o Teste de Mann-Whitney, Teste T Independente e a Correlação de Pearson. O Estudo 2 buscou compreender o significado que os atletas atribuem ao fluxo, a percepção do fenômeno na prática esportiva e as implicações sobre o rendimento esportivo a partir da análise de conteúdo. Foram utilizados dois instrumentos, um Questionário Demográfico e um Guia de Entrevista Semiestruturada. Foram entrevistados 8 atletas, sendo quatro de cada equipe, escolhidos por sorteio. As entrevistas foram transcritas, desmembradas em unidades de registro e agrupadas em categorias de respostas. Os resultados de ambos os estudos demonstraram que as equipes juvenil e adulta de rúgbi vivenciaram a experiência de fluxo durante a prática esportiva. As correlações das dimensões com o fluxo total de cada equipe, no Estudo 1, revelaram que a fusão ação-consciência e transformação de tempo não se correlacionaram positivamente com o fluxo total da equipe juvenil, entretanto, todas as dimensões indicaram relação positiva com o fluxo total para os atletas adultos. Apenas fusão ação-consciência e percepção de controle demonstraram diferenças significativas entre as duas equipes, indicando valores mais fortes (p<0,05) para a equipe adulta. A análise estatística por tempo de prática, revelou correlação positiva e significativa para as dimensões fusão açãoconsciência e concentração intensa. A correlação entre a idade dos atletas e as dimensões do fluxo, relevou correlação significativa para as dimensões fusão ação-consciência e perda da autoconsciência. O Estudo 2 indicou que a sensação de êxito na partida, emoções positivas, apoio e incentivo, reconhecimento e superação dos desafios foram citados como aspectos que contribuiram para vivenciar a experiência de fluxo. Os aspectos favoráveis para o alcance do fluxo, foram: uso de estratégias psicológicas, elevado nível de concentração, sentir-se preparado para o jogo e emoções positivas. Entre os fatores indicados como não favoráveis para o estado de fluxo estão: emoções negativas, problemas de concentração durante o jogo, não se perceber preparado para o desafio e dificuldades intragrupais. As emoções negativas e não se perceber preparado para o desafio foram aspectos citados apenas pelos atletas juvenis. O discurso dos atletas evidenciou que embora não soubessem descrever o fenômeno fluxo, já haviam vivenciado este estado psicológico. Os resultados de ambos os estudos evidenciaram o fluxo como um aspecto psicológico importante envolvido em experiências que exigem elevado nível de desempenho esportivo. .

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